quarta-feira, 8 de junho de 2011

Na fronteira entre o Bem e o Mal - PARTE 3




Abigor pousou seu dragão calmamente. Ele mantinha a Borboleta junto de si, protegida em seus braços. Estava frio, e ele a abraçava com mais força pra que seu calor pudesse passar a ela. A frágil Borboleta não estava acostumada com o frio e com o escuro, aquilo a assustava, mas se sentia imensamente acolhida nos braços daquele demônio, sentia ser ele sua única salvação naquele minuto.

Ele a levou para dentro da casa, era preciso manter segredo sobre a Borboleta, qualquer criatura da Luz não era bem vinda nas Trevas, e apesar de todas as criaturas das Trevas o temer, não queria arriscar a vida daquela que mantinha nos braços.

A casa de Abigor lembrava um castelo, uma porta dupla gigantesca de madeira bem envelhecida, presa por correntes e com uma cabeça de bode gigantesca no topo do portal que cuspia fogo pelas narinas. Ao passar pela porta a princesa se deparou com um hall tão grande quanto ao do castelo do Reino da Luz. Como poderia um demônio ter uma casa que se equiparava a um castelo? Ele não era qualquer demônio, pensou ela. Um hall circular, cercado por colunas de mármore negro, o piso todo entalhado com formas que se encaixavam num desenho perfeitamente simétrico, olhado de cima parecia com uma estrela de cinco pontas e um círculo central, tochas estavam posicionadas em cada uma das cinco pontas da estrela.

Era quase impossível enxergar além das colunas devido a fraca luminosidade, mas pareciam corredores, corredores tenebrosos que ela realmente não queria saber onde iriam dar.

Abigor então a colocou delicadamente no centro daquela figura no chão e começou a acender as tochas. Quando terminou ela pode ver o teto, pinturas de batalhas sanguinárias estavam gravadas naquele lugar, depois de um tempo observando ela percebeu que aquelas pinturas contavam uma história, a história do mundo e como os dos reinos se separaram a milhares de anos. Como era possível uma história tão grande ser bem contada num pequeno espaço como aquele e com tamanha riqueza de detalhes? Ela não acreditava, aquele demônio devia ser muito poderoso, um grande sábio talvez.

Ela temia por sua vida, estar tão debilitada nas mãos de um demônio assim seria morte na certa, ele poderia fazer o que quisesse com ela, mas todos esses pensamentos se afastaram quando ele se aproximou do centro do pentagrama e ela olhou novamente em seus olhos.

Eles ficaram se encarando por um tempo, a sensação que os dois sentiam era inexplicável, algo realmente novo para ambos. No fundo os dois sabiam o que era aquele sentimento, mas não podiam aceitar. Como um ser de luz poderia se apaixonar por um ser das Trevas e vice-versa? Isso era inaceitável, mesmo se os dois se assumissem seriam condenados e mortos por seus semelhantes como traidores.

Abigor suspirou e desviou o olhar, ele precisava fazer algo antes que aquele ser padecesse, mas como? Ele só tinha conhecimentos de magia negra, provavelmente aquilo seria mortal pra ela, mas ele tinha que tentar.

Ele atravessou o hall e entrou no escuro em um dos corredores, ela só ouvia o ranger de portas e logo gritos, sons horrendos. Pouco depois Abigor voltou com um animal em suas mãos, e o segurou no ar sobre a princesa, ele precisaria do sangue daquele animal para salvá-la. Ao perceber as intenções dele a princesa gritou

_ NÃO! POR FAVOR EU LHE IMPLORO, NÃO FAÇA ISSO!

Ela então se agarrou a ele e seu rosto estava ainda mais pálido. Abigor pode ver lágrimas de pena do animal brotando-lhe nos olhos, mas ele não entendia, ele estava prestes a salvar a vida dela, a vida daquele animal era muito insignificante, mas ela não queria permitir isso, ela preferia morrer a ver aquele mísero animal perder a vida.

Aquilo comoveu o demônio, COMO ASSIM COMOVEU O DEMÔNIO? Sim, nem mesmo ele sabia explicar o que acontecia quando estava perto daquele ser de luz. Em situações passadas ele teria simplesmente decepado sua cabeça naquele campo da fronteira e bebido todo o seu sangue, mas com ela era diferente, o cheiro de jasmim que ela exalava o entorpecia, ele sentia uma sensação de prazer e tranqüilidade que ele nunca imaginou sentir.

Ele afastou cuidadosamente a princesa de seu corpo:

_ Acalma-se, confie em mim.

Abigor arremessou o animal para o corredor, ele não o mataria, não conseguiria. Mas ele precisava de sangue, sem sangue a princesa não sobreviveria.

Mas onde arrumar sangue que não seja de outros seres vivos? Foi ai que ele se lembrou que mais forte e poderoso do que qualquer outro sangue nesse universo era o sangue de criaturas místicas, das duas criaturas mais poderosas existentes, os demônios e os anjos. Ele arrancou a parte da armadura que protegia seu antebraço com toda força e arremessou longe, a princesa o fitava perplexa sem saber o que estava acontecendo, ao mesmo tempo que ele tirava uma bela adaga da cintura, toda entalhada com o cabo em formato de cabeça de dragão, e enfiava no toda a força no braço, rasgando do punho até a dobra do braço deixando aquilo aberto com cada camada de pele e músculo a mostra.

O sangue literalmente jorrou do braço esquerdo do demônio, aquele sangue escorreu pelo chão e preencheu cada linha daquele pentagrama, quando a última linha estava completa ele arrancou um pedaço de sua roupa e fechou o rasgo no braço. Colocou a princesa que estava cada vez mais pálida novamente no chão e se dirigiu pra uma das pontas da estrela pegando uma tocha. Encostou a chama no chão e imediatamente o fogo se alastrou por todas as linhas daquela figura geométrica. Abigor voltou pra junto da borboleta, agora os dois estavam no meio de um pentagrama incandescente. Ele ficou parado ao lado dela conjurando palavras num idioma sombrio e antigo que ela não conseguia compreender. Quanto mais ele falava mais as chamas aumentavam até tomar todo o círculo de magia, o único lugar que não pegava fogo era o centro.

A princesa começou a levitar devagar, apesar do medo e da dor que sentia a presença do demônio lhe dava muita segurança.

Quando ela chegou na metade da altura entre o altar e o teto Abigor gritou as seguintes palavras _ Valignat! IRISV!!! (No idioma dracônico: Queime! CURE!).

Quando ele disse isso as chamas tomaram o lugar, a princesa fechou os olhos em desespero, não tinha forças para se mover, iria morrer. Mas quando abriu os olhos à surpresa, ela estava envolta pelas chamas, como se estivesse numa cápsula. Não sabia por que, mas quanto mais o fogo queimava mais forte ela se sentia. Sentiu seus ferimentos curando, a dor indo embora, começou a sentir suas asas novamente, e viu sua luz voltar. Como isso era possível? Ela estava sendo curada com um ritual da magia das trevas.

Após alguns minutos a chama cessou e ela viu Abigor lá embaixo trazendo-a de volta para o chão lentamente. Quando ele a colocou no centro do altar suas pernas fraquejaram e ele caiu desacordado nos braços da bela princesa...




“Um homem só encontrou a mulher ideal quando olhar no seu rosto e ver um anjo, e tendo-a nos braços ter as tentações que só os demonios provocam.”

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