sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Estupro nosso de cada dia


Um ano da morte de uma indiana estuprada coletivamente num ônibus. O mundo ouviu falar. Protestos. Indignação mundial. Mas quer saber? Besteira!
Não é? Afinal, quem reclama disso é tudo feminista sem mais o que fazer. Sério, mulher sem louça pra lavar. Fica reclamando à toa, na verdade, elas que tem privilégios. Desde sempre, aliás. As mocinhas que não faziam nada, enquanto os bravos cavaleiros lutavam guerras sangrentas e perigosas. Hoje, elas ficam em casa cuidando de crianças e do lar (ou deveriam ficar, pelo menos), tarefa muito mais simples e certamente menos desgastante do que trabalhar oito horas por dia pra sustentar a família. Com certeza. É, é menos desgastante. E ainda reclamam!
E com o que elas têm que lidar? Uns “gostosa!” na rua? Umas apalpadelas no ônibus? É inocente, é um “elogio bruto”. A que isso pode levar? Estupro coletivo, no máximo. Besteira.
(Mas na hora de servir o exército ninguém quer, né, hahahaha, feministas escrotas sem coerência).
Na verdade, é tudo gorda. Tudo mal comida. Falta uma pica grossa pra essas insuportáveis. Que nem pra indiana. Reclamou, mas deve ter morrido gozando. Alguém pra comer pelo menos. Mulher feia tem que ficar feliz de ser estuprada, né? Alguém já disse isso. Sábias palavras, com certeza.
E, mesmo que seja bonita, devia estar se mostrando. Tinha que estar. Aí mereceu.
(A licença paternidade é muuuito menor que a licença maternidade. Reclamam à toa, essas feministas sem noção).
Um ano e continuam reclamando sem motivo. O mundo é igualitário. Machismo não existe. Tudo invenção. Querem uma ditadura das mulheres. Querem ter mais direito que os homens.
(Quão dura e sofrida é a vida do varão que precisa se privar de objetificar mulheres por aí para não ser confundido com estupradores. Ah, que falta de racionalidade!)
O quê? O que aconteceu com a indiana acontece o tempo todo em todos os lugares? Ainda? Ah, mas... Tem motivo. Elas provocam. O homem não tem culpa. Com uma saia curta daquela, tava pedindo! Ah, não tava de roupa curta. Mas alguma coisa fez pra provocar. Se não, né, nunca tinha rolado... Não fez? Bom, mas não importa.
Eu não sofro com isso, então foda-se. É tudo feminista escrota, irracional e cheia de mimimi. Deviam se dar por satisfeita da gente deixar elas falarem. Só falam merda mesmo, hein? Mulher é tudo burra! Hahaha!
Mesmo considerando que eu não faço a menor ideia do mundo em que elas vivem. Mesmo levando em conta que é terror absoluto cada olhar de um macho na rua, e até a própria vida em muitos casos. Não importa. É besteira. Essa indiana não devia ser martirizada. As mulheres deviam parar de mimimi.
Enquanto isso coisa mais séria acontece no mundo. Tipo... Minha mulher tá querendo trabalhar fora. Olha isso! Como uma família continua firme desse jeito?

E elas reclamando. Absurdo.
Um ano da morte da indiana?
Perto do que eu passo, isso não significa nada!

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João Víctor é escritor, filósofo e confia na capacidade das pessoas de entender sarcasmo.

sábado, 21 de dezembro de 2013

By blood and by me


Porque no final sobram as rimas das palavras nunca ditas e o pó dos sonhos nunca realizados.
Porque no final eu fecho a cortina sem nenhum aplauso.
Porque a realidade é que o pó de pirlimpimpim não me ajudou a voar,
E o amor ficou perdido em uma das esquinas do destino.
Porque no final a rosa desbotou e o branco do vazio tomou conta de tudo.
Porque no final seu sangue não foi suficiente pra me salvar
E minhas asas não estavam prontas pra voar.
Porque no final os anjos não eram tão bons assim
E as possibilidades de um final feliz se perderam nas páginas amareladas de algum livro na estante
Porque no final de tudo o colo quente e aconchegante da primavera virou outono,
E os olhos dele se perderam no meio da multidão
Porque no final, à noite, eu me sentei e chorei.
Chorei porque no fim, quando a Terra andar a ermo pelo espaço e a raça humana estiver extinta a marca da lágrima ainda estará no chão vazio.
Porque no meio de toda essa confusão de mentiras e hipocrisias é a minha lágrima a derradeira verdade.
Salgada marca o chão em silêncio
Em silêncio tudo se desfaz...