sexta-feira, 14 de março de 2014

Vinte e Poucos Anos


Com o passar do tempo chego a conclusão de que a vida é uma coisa efêmera e por mais que você hesite em seguir a diante, ela, como um pai teimoso, vai te pegar pelo pulso e te arrastar pra onde quiser.
Com o passar do tempo percebemos que nossas escolhas se resumem a aceitar a vida como ela é, ou cair de cabeça em um paradoxo de liberdade que acaba se tornando contrário a tudo que muitas vezes você acredita e aceita como correto, é uma escolha, a difícil escolha de encarar demônios que já conhecemos ou assumir o risco de encontrar novos que podemos não conseguir destruir.
Enquanto isso, os dias vão passando, as horas, os cabelos vão ficando grisalhos e a face enrugada, a mão já não tem toda aquela força e os olhos já não enxergam tão bem assim o caminho a ser seguido, o tempo não respeita a inércia da indecisão e como um vilão de filmes infantis ele te tira o bem mais valioso, a possibilidade de correr riscos. Com o passar do tempo aprendemos a ser prudentes, a sermos covardes, já não nos levantamos mais perante as injustiças porque sabemos que aquilo sempre vai ser assim, foi assim desde o inicio dos tempos, não temos a ânsia da juventude de mudar o mundo e deixa-lo melhor, deixamos isso pras gerações futuras, as gerações que não saberemos mais como criar.
Meu maior medo é olhar pra trás e perceber que deixei de viver, de correr riscos e apostar em coisas novas por medo de perder minha sustentação em um mundo hipócrita e que ri da inocência cor de rosa que cultivei durante tanto tempo trancada numa caixinha de cetim, tenho medo de ficar velha sem a sensação boa do dever do cumprido, sem dar valor a cada fio de cabelo branco, a cada tatuagem em uma pele já tão gasta que conta a minha história.
Eu vou envelhecendo com medo de perder a sensibilidade de esperar o por do sol, com medo de não saber mais conversar com animais, com medo de não conseguir admirar a beleza de uma flor sem sentir a tentação de arrancá-la do jardim, eu estou envelhecendo, e tenho medo, muito medo de não conseguir mais voar. E por isso todas as noites eu ainda rezo o Santo Anjo, faço um pedido pra primeira estrela do céu, e repito como aprendi com o Caio todas as manhas: Que o dia seja doce como brigadeiro.

Amém.

“Logo os meninos perdidos viram que tinham sido uns burros por não ficarem na ilha. Mas agora era tarde demais, portanto eles se conformaram em ser tão normais, quanto eu, você ou qualquer zé ninguém. É triste contar isso, mas aos poucos eles foram perdendo a habilidade de voar. Eles disseram que era falta de prática, mas a verdade é que não acreditavam mais.”

Peter Pan – J.M Barrie