domingo, 24 de janeiro de 2016

Em alguns dias tudo vai mudar...

Hoje do nada relembrei a senha do blog e entrei pra ver como tudo estava. Como uma casa abandonada por muito tempo tudo se encontra no mesmo lugar em que deixei da última vez que estive aqui. As palavras estão encobertas por lençóis brancos cheios de poeira, a louça suja ainda está na pia, a TV desligada da tomada pra esquecer das noticias ultrapassadas e violentas que insistem em chegar, os sentimentos ainda amontoados em cima do velho piano, todos guardados em seus devidos potes, rotulados como manda o figurino pois "não se deve de maneira nenhuma confundir sentimentos em minha idade, já estou naquela época em que as certezas devem ser absolutas e o caminho traçado será para sempre aquele em que estou". Ando pela velha casa sorrindo sozinha quando passo por um canto que me trás boas recordações, suspiro enquanto caminho pelas palavras que me deixaram marcas tão grandes e passo sem perceber a mão sobre o meu coração cheio de cicatrizes. Rio largo quando vejo a velha caixinha de música cor de rosa, e a pintura do Destino que tantas vezes me procurou para um bom papo. Sinto falta de conversar com ele...hoje seria um bom dia pra ele aparecer e conversarmos. Mas isso foi numa outra época...num outro eu. Vejo fotos antigas dependuradas na parede, eu e a minha mãe, eu e meu pai como homem de ferro, não conversamos mais hoje...vejo as velhas amizades enraizadas tão fortes dentro de mim que parece que os anos na verdade não se passaram, vejo os amores,...ahhh os amores. Relembro das promessas nunca cumpridas, dos sonhos que ficaram guardados pra sempre na caixinha de recordação em cima do armário, os sorrisos doces, a impressão de que tudo seria para sempre, mas uma única coisa fica em minha memória ecoando, aquela velha canção da Cássia, sobre as estações que mudam mas não mudam dentro de nós, sobre o pra sempre que sempre tem fim,

Sempre tem fim...sento na mesa, pego um copo d'agua, respiro fundo o ar empoeirado...

Acho que é sobre isso que escrevo hoje, sobre o fim.
Muitos anos atrás quando eu construí essa casa ela veio repleta de sonhos e planos, sobre sonhos de uma adolescente obcecada por cor de rosa, filmes da Disney, finais felizes, amor... não que não reste nada dessa mesma menina em mim, ainda amo cor de rosa, os filmes da Disney continuam sendo os meus preferidos, mas o amor e a parte dos finais felizes mudaram bastante, Meu príncipe encantado virou um cara de carne e osso, cheio de defeitos chatos e manias terríveis, mas que cozinha a melhor comida japonesa do mundo, que faz as melhores piadas do universo, e que torna a vida tão simples como respirar, o final feliz é assustador, porque eu não quero que ele chegue nesse exato momento, ok, se ele chegar tudo bem, mas eu ainda quero ver tanta coisa, viajar pra tantos lugares, conhecer tantas outras culturas e costumes que o final feliz parou de fazer sentido, a felicidade parou de ser obrigação e passou a ser sensação, sem compromisso de ficar, sem compromisso de estar presente o tempo todo. Amadurecer me tirou muita coisa doce que ainda se encontra nessa casa e que ficará para sempre aqui, mas amadurecer também me deu a chance de descobrir que na verdade eu ainda não sei de nada e que talvez eu nunca vá saber. Eu luto pelos direitos das mulheres, fui trabalhar com crianças que muitas vezes vinham de famílias totalmente desestruturadas, resgato animais de rua, faço boas ações, não porque eu almejo um céu, porque na verdade eu acho que ele nem exista, mas porque essas coisas fizeram de mim uma pessoa melhor, Eu comunguei com o mundo sobre deixar minhas fantasias de lado e tentar ajudar o meu próximo o máximo que eu conseguir, não porque é meu dever, mas porque eu devo uma pro mundo, afinal o universo sempre conspirou a favor dos meus sonhos e cara, ele me deu muita coisa assim, de "mão beijada".

Olho pra essas paredes pintadas de rosa, olho para a moça com a cavalo branco no riacho, o quadro que tanto me encanta, Alice nunca se esquecerá do seu mundo de maravilhas, mas agora tem um mundo de maravilhas que a espera lá fora. Talvez um dia eu retorne, talvez não, talvez eu comece a construir uma casa diferente, com uma lareira e paredes de tijolo a mostra, talvez.,.
Me levanto da mesa, coloco o copo na pia com algumas xícaras que o Chapeleiro deixou, ajeito os lençóis sobre as palavras, vou até o piano, abro os potes de sentimentos e espalho todos por aí, nunca gostei de rótulos afinal, sorrio enquanto contemplo no espelho meu corpo cheio de tatuagens, dou uma piscadinha pra mim mesmo.

Caminho até a porta,

Olho em volta uma última vez.

Adeus Alice,,,

Fecho a porta.

A partir de agora, o mundo se torna o jardim da minha nova casa.