terça-feira, 29 de novembro de 2011

Relatos de quem perdeu suas asas:

Sempre fui feita de nuvens e altos voos, o chão me limitava e eu odiava o limite! Sempre preferi os ares, até que numa noite escura eu caí de uma altura considerável. Fui perdendo altitude e enfim, a queda!

Doeu... doeu muito...

E só havia o chão, o frio e o escuro! A noite se mostrava tão longa e o dia parecia tão longe e eu precisava da aurora pra sair dali. A copa das arvores não me deixava ver a luz da lua nem das estrelas. Eu estava só no escuro!

A noite foi longa e desesperadora, o único som que havia era dos meus soluços! Foi tanto tempo no chão que os soluços se transformaram em murmúrios e depois em apenas sussurros, até que veio a calmaria...o silêncio...

Foi no silencio que eu me levantei e comecei a furar a teia daquele quadro sinistro, era preciso sair dali! O fio foi bordando estrelas na noite com um tom de ousadia e aos poucos eu fui vendo alguma luz. Das lágrimas que rolaram produzi poemas e canções, até que o cansaço foi mais forte. Ameaçou. Era a hora mais escura, aquela que antecedia o começo do dia. Eu quis desistir e me render ao cansaço, mas ao longe os pássaros começaram a cantar, eram a cotovia e o rouxinol.
Sorri.

E depois da última travessia para longe do medo e da agonia, a noite terminou! A manhã nasceu limpa e no chão para minha surpresa haviam flores, borboletas, árvores, pedras, grama verdinha, orvalho, joaninhas, havia tanta vida!

Quando enfim consegui ver o céu tudo era lindo! Apesar da claridade súbita ferir meus olhos eu não consegui fechá-los de tão admirada! O céu estava de um azul fraquinho, tingido com branco e dourado! Era ainda mais lindo visto daqui debaixo!

Aqui do chão, com tanta coisa vibrante, aconchegante e viva, eu me sentia segura agora! O céu ficou sendo só uma recordação, algo para ser guardado, e de vez enquanto, lembrado com um leve sorriso de satisfação. Não como algo arrancado, mas como algo renunciado por ser a melhor escolha.

Hoje o chão não me limita, mas me sustenta. Eu sei das marcas das minhas asas caídas, sei que um dia eu as terei de volta, mas por enquanto eu prefiro caminhar. As estradas são de pedras e machucam por vezes os meus pés, mas as flores com suas cores vibrantes ao redor dela compensam o sofrimento da caminhada, a agua fresquinha do riacho onde me sento a margem pra descansar é como um presente pela renúncia de voar entre as nuvens.

Ainda preciso descobrir tanta coisa aqui no chão, percorrer tantos caminhos e para quem sabe um dia reaprender a voar!

E foi assim, que eu, uma eterna apaixonada do céu, aprendi a amar o chão!

Esses dias nublados em que o céu fica todo molhado, o olhar meio perdido, a vida meio embaçada...

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Até a volta...


(...)Então tenho vontade de abrir todas as janelas da casa para que o sol possa entrar.
É isso que me ocorre pelas manhãs, sempre à mesma hora.(...)
Meus dias são sempre como uma véspera de partida.
Movimento-me entre as pontas como quem sabe que daqui a pouco já não vai estar presente.
As malas estão prontas, as despedidas foram feitas.
Caminhando de um lado para outro na plataforma da estação, só me resta olhar as coisas lerdo e torvo,
sem nenhuma emoção, nenhuma vontade de ficar.
As janelas abrem para fora, os bancos parecem-se aos bancos e os vasos foram feitos para se colocar flores em seu oco.
As coisas todas se parecem a si próprias.
Nada modificará o estar das coisas no mundo, e a minha partida ontem, hoje ou amanhã, não mudará coisa alguma.
Cada coisa se parece exatamente com cada coisa que ela é. Assim eu próprio, me parecendo a mim mesmo, de um lado para outro, entre cigarros sem sabor e jornais sangrentos (...).

CFA

‎25 de Novembro: Dia de Combate à Violência Contra a Mulher!!!!

"A data, estabelecida em 1981 durante o 1º Encontro Feminista Latino-americano e do Caribe, é uma homenagem às irmãs Mirabal, ativistas políticas da República Dominicana, conhecidas como Las Mariposas. As duas foram assassinadas em 1960 durante o governo do ditador Rafael Trujillo. As irmãs foram mortas quando regressavam de uma visita a seus maridos, presos por oposição ao regime de Trujillo. A morte das duas ativistas provocou protestos dentro do país e na comunidade internacional, intensificando a oposição contra o governo. Trujillo acabou sendo assassinado um ano depois da morte das duas irmãs."


DENUNCIE!!!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Toda vez que um jovem ou uma criança morre é como se a alma do mundo chorasse. Choram os pais, os parentes, os amigos, e a alma do mundo...a alma do mundo sempre chora!

É mais uma esperança de dias melhores que está indo embora, é mais uma esperança de um mundo melhor que se vai...

Posso comparar a vida humana a uma rosa, quando nascemos somos apenas frágeis e delicados botões...tão tímidos e indefesos frente a todas as tempestades que possam machucar nossa frágil existência no jardim.

Com o tempo desabrochamos, somos lindas rosas, que todos admiram pelo perfume e beleza. Os mais velhos se curvam frente à beleza da juventude e o brilho no olhar de quem pode mudar o mundo, de quem pode tudo, basta sonhar e acreditar temos a vida toda pela frente!

Com o tempo nossas pétalas murcham, nossas folhas caem e completamos nosso ciclo pra que outro botão possa nascer em nosso lugar.

Quando no auge da nossa beleza somos retirados do jardim, tudo parece vazio, apesar das outras rosas ainda continuarem ali, falta uma, aquela rosa que pode não ser a mais bela, nem a maior, mas que deixa um buraco enorme, um vácuo no canteiro do nosso coração que nem a rosa mais bonita pode preencher...falta aquela rosa...aquela especial, pode ser uma que acompanhamos o desenvolvimento quando ainda era um botãozinho, ou pode ser aquela que conhecemos tão bela no auge da juventude, a falta e o vazio parecem estar presentes todas as vezes que fechamos os olhos e imaginamos o nosso jardim, agora ele já não é mais tão completo...

Retirar uma rosa do jardim em seu estado mais lindo é tão cruel, deixa tantas marcas, tantos vácuos...tantas dores nos corações...tudo deveria ser como num ciclo, botão, rosa bela, rosa murcha...por que retira-la no auge da juventude?? O jardineiro do Universo nunca responde, ele apenas escolhe, não importa muito o vazio no canteiro ou o caule que vai sangrar...ele retira pra colocar no vaso grande da sua mesinha da sala...ou quem sabe para plantá-la em outro lugar talvez...talvez...

Outras rosas irão nascer em seu lugar...outras mais belas, menos belas, perfumadas e exóticas...mas pro dono daquele jardim sempre existirá a falta daquela pequena, com uma pétala a menos, mas que o fazia sorrir ao passar por lá...

Dedicado à memória de B.V. e E.F

Rosas belas retiradas do jardim de Alice

“…And so lying underneath those stormy skies, she'd say:

_ Oh, I know the sun must set to rise!”



“Life goes on

It gets so heavy

The wheel breaks the butterfly

Every tear, a waterfall

In the night, the stormy night

She'll close her eyes

In the night

The stormy night

Away she'd fly…”

Paradise...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

São três horas da manhã... Acordo!

A borboleta rosa despenca do espelho para o chão,

Como num sonho em linha reta ela desce pairando.

Assusto...

“Quem está aí?”

Escuro...

Na rua os cachorros latem,

Algo errado no ar...o ar está parado...

Pesado

Sonolento!

O que há meu Deus, não me deixa agora!

Eu chamo, o silencio responde...

Fecho os olhos...uma respiração na minha face!

Abro os olhos com medo...

Não há ninguém...

Três e meia...ainda não durmo!

Levanto...coloco a borboleta na mesa com cuidado.

Abro a porta, ando pela casa...

Sonâmbula?

Volto ao quarto...deito...fecho os olhos...

Há alguém ali...eu sinto!

Não durmo...

Não olho a janela, pois sei que ele está ali parado, me esperando!

Não quero vê-lo...

Espero o dia clarear...e durmo!

No outro dia me recordo

Um pesadelo...apenas o mesmo pesadelo de todas as noites!


"...É o que há de mais lindo,
nascer sem asas e fazê-las crescer..."

(J.Saramago)

TODOS OS MEUS PEDAÇOS AQUI...

E VOCÊ NÃO ME CONHECE,

EU NÃO CONHEÇO VOCÊ...

domingo, 20 de novembro de 2011



"A única pessoa que está no seu caminho para chegar a perfeição é você mesma."

O Maestro

Essa história se passa em dias próximos ao Natal em uma cidadezinha da velha Inglaterra, usem a imaginação de vocês para saborear cada detalhezinho. Foi escrita por mim num dia de muita tristeza e dor, foi o que conseguiu acalmar meu coração e hoje compartilho com vocês.

Alice




Era uma vez um maestro que no auge do seu sucesso se sentia só;
Em cima dos palcos regia orquestras que de lágrimas enchiam os olhos das pessoas que as assistiam, sua maestria vinha da alma e conseguia dessa maneira tocar as almas dos outros, porém, era no fundo de sua poltrona favorita, tendo aos seus pés seu fiel amigos Rufus, bebendo um cálice de seu vinho do porto, esquentado ambos em uma lareira vendo a neve cair lá fora que a solidão marcava presença forte em seu coração vazio.
O Maestro esperava um amor verdadeiro, ansiava por desvendar seus segredos e mergulhar sem receios na alma do mundo provando o doce sabor que somente aqueles que amam verdadeiramente sentem. Porém, por mais que quisesse o amor não batia em sua porta. Ele entendia que o amor tinha hora e data certa pra chegar e não adiantava tentar apressar as coisas, cabia-lhe ser paciente e esperar que a dádiva do amor lhe pudesse ser entregue.
O Natal estava próximo e todos os seus espetáculos agora eram com melodias natalinas que celebravam o nascimento do Bom Menino Deus. As pessoas se aglomeravam na porta do teatro para assisti-lo reger tão esplendoroso sua orquestra. E era em épocas assim que seu coração tomava corpo e forma e batia violentamente em seu peito implorando para ser resgatado e salvo daquele mundo cruel de abandono. E eram em noites assim que o maestro melhor regia sua orquestra, fazendo com que seu coração batesse nas pontas de seus dedos, cada instrumento tocava em seu devido momento, cada nota saía conforme a melodia exigida por seu coração. E quando as luzes do teatro se acendiam e ele olhava para a plateia, uma salva de palmas prolongada, com pessoas em pé o aclamavam com lágrimas nos olhos.
Ao chegar em casa o fiel Rufus vinha abanando a enorme calda em sua direção, ele lhe afagava a cabeça e olhava ao redor a casa nobre de madeira rústica, impecavelmente decorada, para quem? Para ele somente? Assim seriam todos os dias até o final de sua vida?
Foi numa noite especial, sentado em sua mesa na sala de jantar saboreando sua refeição solitária a luz de velas que começou a brincar com os palitos sobre a mesa fazendo com que eles se transformassem em bonecos, de repente algo se iluminou dentro de sua cabeça, precisava arrumar algo para distrair sua mente enquanto estivesse em casa sozinho senão enlouqueceria, já ouvira casos de gente que enlouquecerá por amor, mas por falta dele, seria ele o primeiro?
O maestro correu então ao seu porão, buscou madeira, papel e qualquer coisa que lhe servisse como instrumento naquilo que estava planejando.
E assim foi, durante uma noite inteira Rufus observou seu dono num andar apressado. Do porão saiam marteladas, barulho de madeiras sendo serradas, fitas de cetim e pedaços de pano para todos os lados e somente quando a cor da aurora começou a pintar o céu foi que o maestro caiu sentado exausto num velho sofá que por ali ficava.
_ Rufus velho amigo, afinal minhas mãos não servem apenas para reger orquestras.
O maestro se sentia feliz, ao seu redor, dezenas de bonecas haviam sido produzidas naquela noite, algumas de madeira, outras de pano, olhinhos de botão azuis ou verdes, cabelos de fios de linha colorido, qualquer criança ficaria encantada naquele mundo que o maestro acabará de criar.
_ Bem amigo, e agora, o que farei com elas me diga?
Rufus baixou as orelhas, como que indagando também qual seria o fim da maravilhosa arte de seu dono. Acordado como de um transe o maestro começou a colocar todas aquelas maravilhosas bonecas dentro de uma caixa de papelão. No fim vestiu seu casaco pesado e chamando Rufus saíram pela porta da frente rumo a rua ainda coberta de neve.
A algumas quadras da casa do maestro existia um orfanato para meninas, o lugar era pobre mais aconchegante. O maestro parou em frente do pesado portão com grades e tocou o sino que servia de campainha, não demorando muito uma senhora com um grosso casaco de lã cor de rosa e cabelos grisalhos como a neve veio lhe receber.
_ Pois não, em que posso ajudá-lo Sir? _ disse a senhora abrindo um sorriso que muito lembrou o maestro sua falecida avó.
_ Eu..bem...eu..queria fazer doações dessas bonecas as suas crianças. Posso?
A senhora abriu a caixa que o maestro carregava e se deparou com bonecas lindas, tão lindas que seus olhos se encheram de lágrimas.
_ Oh Sir, são lindas! Minhas meninas irão adorar, já estávamos tão tristes porque esse ano não recebemos muitas doações e não poderíamos comprar seus presentes. O senhor sabe Sir, épocas difíceis onde a avareza e o egoísmo dos seres humanos estão cobrindo seus corações como a neve cobre agora as ruas e calçadas de nossa cidade. Mas, como posso ser rude assim, entre Sir, vamos nos aquecer lá dentro e o senhor mesmo pode entregar as meninas tão valioso tesouro!
O maestro olhou para o companheiro que estava com as patinhas geladas na neve.
_ Oh, seu amigo também é bem vindo em nossa casa _ disse a senhora sorrindo.
Rufus latiu satisfeito por finalmente tirar as patas da calçada congelada.
Ao entrar no orfanato uma sensação de paz invadiu o coração do Maestro, em todos os cantos havia luz, era como se as coisas ali tivessem uma áurea diferente, pura, longe das imundices mundanas. De repente uma garotinha no auge de seus cinco anos de idade, com olhos negros como a noite e cabelo de igual tom segurou sua mão:
_ Sir, posso brincar com seu auau? Aqui não me deixam ter um _ disse a garotinha em tom queixoso olhando a senhora simpática com um bico.
O maestro riu olhando para Rufus que parecendo entender a garotinha se levantou do assoalho quente onde se encontrava e esfregou sua grande cabeça na mãozinha dela, fazendo com que a menina abrisse um largo sozinho.
_Acho que ele respondeu por mim menina. _ disse o maestro.
E a menina correu para mostrar seu novo amigo as outras crianças.
_ Como o senhor pode ver Sir, não somos muito ricos, é tudo muito simples. As paredes são decoradas pelas próprias meninas, e muitos dos brinquedos também são feitos por elas. Vivemos da doação de pessoas caridosas que nos ajudam a manter esse lar feliz. Muitas das meninas que tenho aqui hoje já passaram da idade mais procurada para adoção, então sabemos que a triste realidade delas é viver para sempre aqui até que o bom destino se encarregue de encaminhá-las. Como fui rude novamente, esqueci de me apresentar, me chamo Madeleine, sou a diretora do orfanato _ disse isso estendendo as mãos um pouco enrugadas pelo tempo ao maestro.
_ Muito prazer. Me chamo John _ apertando a mão da senhora_ É um prazer conhece-la. É incrível como faz com que esse lugar seja um lar a essas garotas que não tiveram o privilégio de ter uma família, porém tem o privilégio de conviver com uma criatura tão bondosa como a senhora.
_ Oh, que isso Sir John. Apenas faço o que o meu coração pede. O senhor também deve ouvir sempre seu coração, pois não são todas as pessoas do mundo que saem de casa nas vésperas do natal em que estão correndo em busca de presentes pessoais ou para sua família para fazer doações a um orfanato de meninas.
O maestro ficou em silencio, ouvir seu coração? Foi o que ele fizera e começou a construir as bonecas, é o que ele faz quando rege sua orquestra e a todos emociona, porém, mesmo ouvindo seu coração em todos esses momentos se sentia tão só ao chegar em casa. Em época de Natal as coisas pioravam muito, o maestro não tinha família, seus pais morreram quando ainda era jovem e ele foi criado por uma tia, que também falecerá, lhe deixando só no mundo com uma imensa fortuna. Apenas Rufus permanecia, ele era sua família.
_ Vejamos Sir, quer entregá-las as meninas?
_ Gostaria muito.
Então entraram numa sala enorme com paredes cor de rosa. Em cada canto existiam borboletas de todas as cores desenhadas, assim como flores, nuvens, sol e arco-íris, brinquedos espalhados por todos os lados, e como completando o cenário, quinze meninas de idades variando de três a doze anos brincavam naquele ambiente. Todas uniformizadas com um avental rosa e fitas de cetim nos cabelos, algumas liam sentadas em grandes pufes no chão, outras menorzinhas desenhavam com seus gizes de cera em folhas enormes, e no meio de todo aquele grande cenário Rufus como um rei sentava-se no meio de uma roda de meninas que lhe faziam carinho e escovavam-lhe o pelo e a grossa calda que parecia um espanador. O maestro não pode evitar um sorriso, se um dia tivesse um sonho muito feliz, ele com certeza se pareceria com aquele lugar.
_ Meninas. Por favor venham aqui _ disse Madeleine e todas as meninas pararam o que estavam fazendo para olhá-la. Este é Sir John e ele veio lhes trazer presentes. O que dizemos a ele?
_ Obrigada Sir John_ responderam em coro todas elas.
_ São todas suas_ disse Madeleine lhe piscando o olho.
O maestro não sabia o que fazer, nem quando regia sua enorme orquestra sendo assistido por milhões de pessoas se sentira tão nervoso assim.
_ Bem vejamos, vejo que já conheceram o Rufus senhoritas, meu fiel amigos Rufus, e bom, fiquei muito feliz de conhecer o lar de vocês, e a senhora Madeleine que as cuida tão bem. Espero que gostem das bonecas..._ ao dizer essas palavras todos os olhinhos da sala brilharam ainda mais intensamente, descobrirá ele a palavra mágica. _ Bem, então sem mais, venham pegá-las sim.
E abrindo a caixa de papelão, primeiro as pequeninas vieram com seus passinhos apressados e colocaram a mãozinha dentro da caixa retirando o valioso tesouro. Quando a primeira menina, que no auge dos seus três aninhos retirou sua boneca da caixa todas as outras viram e soltaram um uníssono “OOOOOOOOHHHHHHHHH” frente a beleza da boneca. A menina então olhou para o maestro com os olhinhos ainda mais radiantes e disse:
_ Obrigada Sir John.
E de uma em uma as bonecas iam sendo retiradas da grande caixa de papelão e em seguida um “obrigada Sir John!”, dito com olhos cheios de alegrias. Rufus um pouco aborrecido pois não era mais o centro das atenções das meninas sentou-se ao lado do dono para apreciar o cenário de intensa felicidade que os dois estavam proporcionando aquelas crianças. Por ironia do destino ou não, eram exatamente quinze bonecas dentro da caixa. E quando a entrega terminou todas as meninas esqueceram o que estavam fazendo e brincavam emocionadas com seus tesouros pessoais, umas já se organizavam para trocar suas roupinhas e dar-lhes banho, outras já estavam tomando chá com bolachas na casa uma das outras com suas filhas no colo.
O maestro olhava tudo aquilo com intensa emoção, seguira seu coração e recebera a melhor recompensa que poderia. Seu coração saltava feliz no peito, estava completo naquele momento.
_ São lindas não são Sir John? _ Madeleine falou ao seu lado_ Ainda mais quando sorriem assim, e como se todo o mundo se calasse apenas para ouvirmos seus sorrisos.
_ Sim, a alegria de uma criança realmente não tem comparação. Madeleine, posso voltar outras vezes para visitá-las? E se não for demais abusar de sua boa vontade posso trazer-lhes mais bonecas?
_ Claro Sir, será muito bem vindo sempre que quiser retornar.
O maestro então se retirou da grande sala deixando as pequenas com seus novos tesouros, era chegada a hora de ir. Vestiu novamente seu pesado casaco e saiu rumo a calçada gelada com Rufus rosnando aos seus pés, pois para ele aquele assoalho quentinho estava melhor do que um belo prato de bife com batata frita, sua comida favorita e não estava disposto a abandoná-lo ainda mais para colocar suas patinhas na gelada calçada.
_ Vamos companheiro, prometo que pedirei a senhora Williams que lhe faça luvas da próxima vez, mas agora precisamos mesmo ir.
Rufus rosnou um pouco mais alto e foi.
Ao abrir a pesada porta da frente da casa o maestro suspirou, estava novamente dentro de suas paredes solitárias, apesar do coração ainda conservar o calor que aquele lugar lhe passou, ainda se sentia só. Acendeu a lareira alimentando-a com mais madeira e foi preparar sua comida e de Rufus, essa noite teria uma grande apresentação e precisava estar bem alimentado.
Como sempre sua apresentação fora um sucesso, no camarim as pessoas iam cumprimentá-lo com brilho nos olhos, algumas senhoras com lenço nas mãos não escondiam as lágrimas de felicidade ao conhecê-lo pessoalmente, “O Maestro que regia a música da alma”, diziam todos. Após os cumprimentos, o maestro se despediu apressado, precisava voltar a sua casa, precisava fazer novas bonecas, o Natal seria daqui a quatro dias e era preciso duro trabalho para fazê-las mais lindas ainda.
Naquela noite o maestro sentou-se em sua mesa e se pôs a desenhar, desenhou quinze bonecas perfeitas em todos os detalhes, teriam rostos de porcelana e vestidos de cetim e seda, colocaria chapéus em seus cabelos que seriam feitos com fios apropriados, cada uma seria um presente a uma princesa e deveria estar perfeitas. No outro dia de manha foi as lojas que precisava e comprou tudo, depois da apresentação naquela noite começaria seu lindo trabalho.
E foi durante aquela noite que uma nova idéia surgiu em seu coração, na véspera do Natal muitas pessoas se reuniam para ouvi-lo tocar antes de irem cear com a família, era uma das noites do ano que mais ganhava dinheiro, então com o coração mais feliz ainda ele chegou em casa e foi trabalhar em suas bonecas esperando a aurora chegar para conversar com a senhora Madeleine, ele poderia ajudar aquelas meninas ainda mais e agora sabia disso, seu coração jubilava-se com a ideia, era o primeiro Natal em muitos anos que o maestro se sentia realmente feliz.
Quando percebeu que já era uma hora adequada para se ligar no orfanato pegou o telefone e pediu a telefonista para discar ao orfanato.
_ Orfanato para meninas bom dia _ disse uma voz doce que não era sua conhecida.
_ Bom dia, por favor a senhora Madeleine.
_ Ela não se encontra no momento senhor, posso ajudá-lo?
Mas que voz doce e suave era aquela pensava o maestro, era como se seu coração se acalentasse com aquela voz, não poderia ser uma das meninas, pois a voz provavelmente era de uma jovem de seus vinte e poucos anos.
_ Com que eu falo por gentileza?
_ Sou Alice, ajudante da senhora Madeleine.

“Alice”, pensou o maestro, “que belo nome!”
_ Pois sim, aqui é Sir John, por favor, quando a senhora Madeleine chegar peça que entre em contato comigo imediatamente.
_ Oh, Sir John das bonecas? Que lindo trabalho o seu! As meninas estão encantadas com elas e não as deixam um minuto. Que lindas são, não tenho como lhe agradecer pelo que fez.
“Meu Deus o que é isso”, pensou Sir John, “o que acontece com meu coração enquanto essa jovem fala?”
_ Sim, obrigada senhorita, mas não fiz mais do que minha obrigação, por favor, não esqueça o recado a senhora Madeleine.
E desligou. Seu coração palpitava tão rápido que foi preciso se sentar e tomar um copo de agua para se acalmar. Como seria a dona daquela voz? E porque teve esse imenso efeito sobre seu coração. “Acho que estou ficando louco” pensou ele.
Mais tarde naquele dia a senhora Madeleine o telefonou e ele contou-lhe a idéia que tivera, ela chorava no telefone de emoção, não sabia como agradecer a tão bondoso senhor pelo que ele estava fazendo as suas meninas. Ele falava encabulado que gostaria até de fazer mais, uma ceia de natal se ela autorizasse e entregaria juntamente as bonecas.
_ Mas é claro sir, o senhor é muito bem vindo nessa casa.
_ Senhora mais uma coisa, gostaria de saber quem foi a jovem que atendeu o telefone mais cedo.
_ Ah, era Alice suponho, era uma das órfãs daqui, seus pais morreram num acidente quando ainda era um bebe e não tinha mais ninguém de sua família vivo, ela veio a mim entregue por um policial bondoso e aqui cresceu. Hoje ela é professora e nos ajuda como pode aqui no orfanato, é uma boa moça, ficou encantada com as suas bonecas, no Natal certamente o senhor irá conhecê-la.
_ Sim, senhora. Muito obrigada pela informação e a vejo amanha no teatro, peça a Alice que vá também por favor.
E logo depois que desligou o telefone o maestro só tinha um pensamento, precisava conhecer Alice e precisava dar a ela um lindo presente de Natal, mas o que comprar para uma senhorita que não se conhece? Então ele teve uma ideia, faria para ela uma linda boneca, a mais linda que suas mãos pudessem criar e a presentearia na noite de Natal.
Chegada a véspera do Natal uma surpresa aguardava a todas as milhões de pessoas que veriam o concerto do maestro, uma placa na entrada do teatro dizia que todo dinheiro arrecadado naquela noite seria doado ao Orfanato de Meninas e se alguém pudesse contribuir mais ele seria muito grato.
Na primeira fileira quinze meninas com aventais rosa e fitas de cetim no cabelo olhavam a tudo aquilo admirada, o maestro lhes acenou quando entrou e elas sorriram emocionadas ao vê-lo, ao lado das meninas estava Madeleine, e uma outra jovem, com longos cabelos loiros presos numa trança e os olhos de um azul intenso, o olhar dela com o maestro se cruzaram e naquele instante era como se o mundo tivesse parado de girar, tudo sumiu, o teatro, as meninas, a orquestra, apenas existia aqueles dois corações batendo aceleradamente no peito de cada um. O momento esperado enfim chegará, o amor invadiu o coração daqueles dois.
Foi uma noite maravilhosa. Quem assistiu aquele concerto disse que jamais viu o maestro regendo sua orquestra com tanta paixão e entusiasmo. Quando tudo acabou pessoas sorriam, choravam, o aplaudiam e seus corações estavam envolvidos pela divina música que acabaram de ouvir.
No camarim enquanto cumprimentavam o talentoso maestro cheques eram retirados e preenchidos com quantias exuberantes, dinheiro era entregue a senhora Madeleine que não sabia mais como agradecer tanta generosidade, o espírito natalino em conjunto com a musica maravilhosa do maestro havia descongelado os corações, e por algumas horas aquelas pessoas foram tocadas pelo espírito de bondade e benevolência.
As meninas do orfanato eram elogiadas a todo o momento, todos estavam encantados com a beleza e educação que delas vinha, e elas não faziam por menos, agradecia com reverencia a todos os doadores e sorriam alegres para todas as pessoas presentes.
O maestro sentia seu coração cheio de alegria, paz e...e...amor, sim amor, porque no meio daquela felicidade toda o maestro não conseguia esquecer o par de olhos azuis que o fitava no meio da platéia, não conseguia esquecer a doce voz de Alice e não via a hora de dar-lhe seu tesouro, seu presente de Natal e juntamente com um pedido, um pedido que a muito seu coração ansiava para ser feito, e agora que chegara a hora ele sabia que era realmente aquela moça de olhos lindos e voz doce que ele queria ter para sempre em sua vida.
Acabado os cumprimentos e doações cada um foi se retirando, pois ainda era véspera de Natal e suas famílias o esperavam em casa para a tão sonhada ceia e o encontro familiar. O maestro, Madeleine, Alice e as meninas se dirigiram ao orfanato, onde Rufus esperava ansiosamente na porta tendo em cada patinha uma luva de cor de vermelha, tecida gentilmente pela senhora Williams.
Dentro do orfanato uma grande ceia esperava a todos, o maestro havia pedido autorização a Madeleine e enquanto todos estavam no concerto empregados seus entraram no orfanato e prepararam uma ceia jamais vista naquele lugar. As meninas não cabiam em si de contentamento e olhavam com os olhinhos brilhantes todas aquelas guloseimas antes apenas admiradas nas vitrines de lojas caras, mas antes disso, o maestro retirando uma grande caixa debaixo da imensa arvore de Natal que ele fizera para as meninas disse:
_ Minhas adoradas, vocês devem estar pensando que nesse Natal eu lhes dei muitos presentes não é mesmo? Mas na verdade, foram vocês que me deram os presentes que sempre esperei em toda minha vida. Vocês encheram meu coração de luz, esperança, alegria e amor, ensinaram meu coração a sair daquele canto escuro e vazio que ele se encontrava e vir par a luz, onde as encontrei. Vocês, são o meu presente de Natal e espero que possamos repetir isso todos os anos _ e olhando para Alice_ porque pretendo estar muito perto de vocês para sempre. Agora venham aqui pegar seus tesouros e espero que gostem ainda mais do que lhes fiz.
E foi entregando a cada menina sua linda boneca. As meninas pareciam estar em um sonho, o sorriso não saía de suas jovens faces, e a cada boneca recebida o maestro recebia um apertado abraço e um beijo estalado na face. Para Madeleine, o maestro deu um xale novo, tudo bordado com pedrarias, a senhora chorava emocionada com tudo aquilo, e chegando perto de Alice estendeu a ela a boneca especial que lhe fizera.
_ Essa é para você!
_ Ohh é linda! É a boneca mais linda que já vi _ disse Alice com lágrimas nos olhos_ O sir, eu nunca tive uma boneca. Obrigada.
Abraçou sir John forte e naquele momento seus corações bateram juntos num mesmo compasso, como bateriam para o resto de suas vidas.
O tempo passou, logo após o natal, alguns casais que conheceram as meninas no concerto vieram novamente ao orfanato as visitar e no final, todas as meninas foram adotadas. Madeleine então abriu vagas para novas crianças de ruas que foram acolhidas, e agora expandira o orfanato graças a doação generosa que o maestro fez, e podia receber cada vez mais e mais crianças.
Alice e o maestro se casaram, tiveram três meninas lindas e continuaram todos os anos fazendo a famosa ceia e doação de Natal ao orfanato que também ajudavam o ano todo. Quando a doce senhora Madeleine partiu com os anjos, Alice tomou seu lugar como diretora do orfanato e fazia todos os dias aquelas crianças perceberem que podiam ter um lar feliz e sonhar.

Assim eu acabo essa história, que não traz lição de moral, é apenas um conto daqueles que lemos após um dia cansativo de trabalho ou de estudo, fechamos os olhos e sorrimos, sentindo dentro de nós aquele quarto cor de rosa com borboletas pintadas ganhar espaço e ficamos em paz.

FIM

sábado, 19 de novembro de 2011

Maybe you are there, asking yourself what damned thing I'm trying or wanting with all this messages and countdown...
"Is he thinking that it will make things better? Is this damned guy thinking that it will make any diference?"
I don't know... I really don't know the answers to this questions, mainly because this are not my main intentions...
Ok, I know that one thing happened and made you sad and extremely angry, but I don't blame you cause of your feelings, even thinking they are not correct... But feelings are feelings.
I'm counting and doing things to you cause in spite of anything I really care about you. I know that you're not feeling good with so many things, and once again I ask for your excuses cause I can't be physically near you to hold you in my arms and give the things I think you need now, Cuddle and eternal care. =/
I promised myself to be patient with you and I'm doing it. I love you and it's not a lie... I'll support you even when you step on me, until you get better and things come back to the calm place they never should have gone out. ><
Darling, the main reason for my acts today is to celebrate a very important date for me... for us. You know what I'm talking about, our first kiss... the 'birthday' of it. Yes, I remember it and I'll never forget this date and any other one, the day I met you, the day I kissed you for the first time, the day we decided dating and maybe the most important of all, that crazy dawn that we accepted that we were in love. *_*
Nothing, I said NOTHING in this world will destroy the love I feel for you, nothing will destroy our fairytale! I never will let it happen, I promise you!
This is a very important day for us, for our history, for our love. >< This day means one more step. We still have a considerable road to walk so we can broke the curse. We are almost there, this is almost the last one, after it we have just more seven steps, I won't forget any of them, I'll be always there, holding your hand even being far from you, so we can be stronger each day and reach our final goal. After the last step we are free to live our fairytale with the tranquility in our minds, knowing that nothing else will be able to affect us.
In this day I want to make our ties stronger and tighter than ever, and each step we reach together I will make it tighter and tighter, till the last one, that will be the last tie, the one that will forever hold us together. ><
Hope things can come back to the great place the are supposed to be forever, our calm dark and pinky garden between the Light and the Darkness kingdoms.
Love you so much, sweetheart!
Happy First Kiss Birthday!

Rakastan Sinua Paljon Kultaseni

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Felicidade? - O Teatro Mágico

Felicidade?
Disse o mais tolo: "Felicidade não existe."
O intelectual: "Não no sentido lato."
O empresário: "Desde que haja lucro."
O operário: "Sem emprego, nem pensar!"
O cientista: "Ainda será descoberta."
O místico: "Está escrito nas estrelas."
O político: "Poder"
A igreja: "Sem tristeza? Impossível.... (Amém)"
O poeta riu de todos,
E por alguns minutos...
Foi feliz!

Como não pude aprender algo
para chegar a ser alguém,
eu me dedico a bancar o escritor
para matar tempo.
Distração de loucos,
ofício de famintos,
disseram-me uma vez.
Outros correm,
invertem o dia
fazendo dinheiro.
Eu faço poesia.
Para que serve poesia?
Sabe-se lá.



Humberto Ak'abal.


A parte da cura é o desejo de ser curado...

“Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que nem vejo a minha frente
Nada que me dê prazer
Sinto cada vez mais longe a felicidade
Vendo em minha mocidade
Tanto sonho perecer
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer
Às vezes saio a caminhar pela cidade
À procura de amizades
Vou seguindo a multidão
Mas eu me retraio olhando em cada rosto
Cada um tem seu mistério
Seu sofrer, sua ilusão
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer...”

"Chega de virar páginas.
Eu preciso escrever um livro novo.
Com personagens novos, novas aventuras, novas amizades, novos medos,
novos sonhos e novas paixões...”

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

“O Teu outono me fez primavera...”

Acho que toda criança deveria assistir desenhos...


Monstros S.A me ensinou, que aparência não significa bondade.
A Bela e a Fera me ensinou que quando duas pessoas se amam, beleza não significa nada.
Cinderella me ensinou que dinheiro não compra classe.
Encantada me ensinou que duas pessoas podem ser de mundos completamente diferentes, mas se elas se amam, não há nada que as impeça de ficarem juntas.
Mulan me ensinou a lutar sempre, por mais difícil que as coisas sejam.
A dama e o vagabundo me ensinou que os opostos se atraem.
Toy Story me ensinou que o que é verdadeiro, permanece.
Procurando Nemo me ensinou que sempre devemos lutar por aquilo que amamos.
E Shrek me ensinou que ninguém precisa ser perfeito, para ser feliz...
Essas crianças de hoje deveriam assistir mais esses desenhos,
quem sabe seriam pessoas melhores para esse mundo!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

♥ ** QUINTO MÊS ** ♥

“Há alguns meses, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor verdadeiro. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor verdadeiro. Mas vocês sabem a que me refiro.
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, entre olhares tímidos de dois estranhos e meia dúzias de palavras que se tornaram eternas. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegida, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético dele. Seus olhos me olhavam e me reconheciam de outro lugar, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come frutas, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Peixes. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Não queria nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente, que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração.
Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência. Sobretudo à noite, aos domingos.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor verdadeiro. Curvo a cabeça, agradecida. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. Mesmo nos dias de ausência encontro sua presença em minha alma”.

E que assim seja para todo sempre

FELIZ BODAS DE CHOCOLATE BO *-*

11/11/11 às 11:11


Tenho um presente para vocês, o melhor presente de “Sobrevivemos ao fim do mundo dia 11/11/11 às 11:11” que posso dar: uma história bonita. É real, é de Caio Fernando de Abreu embora pareça mais uma estória naquele sentido de Guimarães, o Rosa. Conto hoje a vocês não apenas porque o dia é especial, mas vocês também o são para mim. Acreditem.
Alice

“Foi um sábado de setembro último. Era um daqueles dias de ventania descabelada da primavera gaúcha, e Déa Martins me convidou para ver o pôr-do-sol na Ponta do Gasômetro, na beira do Guaíba, onde os Oxuns se encontram. Sentamos na grama, ficamos olhando o céu, o rio, o horizonte verde das ilhas. Provavelmente fumei um cigarro, Déa deve ter falado dos problemas de produção com os Paralamas do Sucesso, lembramos de nossa amiga Stella Miranda ou inventamos mais histórias sobre as irmãs Salete, Bebete e Janete. O que quero dizer é que não houve mesmo nada especialmente prévio. Nenhum aviso, nenhuma suspeita. “Aconteceu sem um sino pra tocar”, como no poema do príncipe Péricles Cavalcanti que Adriana Calcanhoto canta e outro dia me fez chorar de beleza. Ríamos muito, isso é sempre o melhor com Déa: ri-se sem parar.
O vento espalhava rapidamente as nuvens pelo céu. Dissolviam-se em fiapos primeiro brancos, depois rosa, depois vermelho cada vez mais púrpura, até o violeta, enquanto o Sol ia-se transformando aos poucos numa esfera rubra suspensa. De repente observei: certa nuvem não se mexia. Apenas uma. Parada, branca, enorme, eu olhei desconfiado. E tinha uma forma inconfundível, qualquer criança veria. Desviei os olhos, falei sem parar, as outras nuvens continuavam a esfiapar-se. Aquela, não. Então, com muito cuidado eu disse: “Déa olha lá aquela nuvem.” Ela olhou. E disse: “Meu Deus, é um anjo.”
Sem gritaria, ficamos olhando a nuvem-anjo. Ninguém mais olhava para ela embora, apesar de discreta, fosse um escândalo.
Quanto às outras nuvens, continuavam a se esgaçar, virando sem parar elefantes, camelos, colinas, nuas mulheres barrocas, como é próprio da natureza das nuvens. Mas aquela, aquela uma não se transformava em nada diferente dela mesma, apenas aperfeiçoava a própria forma. Quer dizer: ficava cadavez mais anjo. Mais tarde, ao chegar em casa,tentei desenhá-la. Olho o desenho agora: a perna direita levemente dobrada, como num plie de dança clássica, a esquerda alongada para trás, num per. feito relevé o corpo se curvando suave para a frente, com o braço esquerdo erguido para o alto e o direito estendido em direção ao Sol. A palma aberta da mão direita se voltava para baixo, como se abençoasse o Sol que partia para o Oriente. Além de anjo, bailarino. E tinha asas, imensas, duplas, quádruplas, múltiplas, espalhadas em várias cores atrás dos cabelos longos. Estava lá parada no céu, a nuvem-anjo, abençoando o sol, o rio, o céu sobre nossas cabeças, a cidade longe.
Quase não falamos. Ficamos até supernaturais, espiamos outras coisas, remexemos nas formigas, namoramos à toa em volta. Vezenquando um espichava o canto do olho para avisar ao outro: “Continua lá”. E assim foi, até que o Sol sumiu, o azul- marinho veio vindo das bandas dos Moinhos de Vento, apareceu a conjunção Vênus-Júpiter em Escorpião. A nuvem? Continuava lá, imóvel. E sozinha. O vento era tanto que todas as outras tinham desaparecido, sopradas para Tramandaí, Buenos Aires, Montevidéu. Só restava ela, a nuvem-anjo, abençoando os últimos raios dourados. Começou a esfiapar-se também apenas quando levantamos para ir embora. Ao chegarmos ao carro, não havia mais nada além de estrelas no céu imenso da Lua quase cheia em Aquário.
Pensei: “Glória a Deus sobre todas as coisas”. Foi o único pensamento que me veio. Nem era direito pensamento, parecia mais uma oração.”

Caio Fernando de Abreu

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Short is the flight of this little starling

Love sounds familiar, but the emotion escapes me

I will carpe the diem while it's still here,

And see how the fear of death becomes her

We had it all so sweet

Made for me, you, indeed...

Big secret, small the lie

Don't cry for me, oh, argentite…