sexta-feira, 13 de junho de 2014


Enquanto as folhas das árvores caem pelo outono, eu sinto meus pés e corações congelar, será que ainda restam esperanças?

Talvez quando as sombras não forem assim tão espessas, e os dias voltarem a ser claros e doces, eu consiga enxergar o caminho por onde estou seguindo. Por enquanto os dias cinzas tomaram conta da minha mente, e navegar em meio a tempestade só faz com que percamos ainda mais a direção certa. Talvez quando a poesia voltar a fazer sentido, e as palavras voltarem a se unir em minha mente eu possa enxergar tudo que deixei passar.
A vida brota do caos...a mão que afaga perde a força, a palavra que ia ser falada encontra aconchego debaixo da língua e por ali fica, sem vontade de ser dita.

E no meio do caos eu vejo você...

…Shine on you crazy Diamond...

Como um cometa luminoso em um céu escuro, você ilumina o que há de triste, você ilumina o que há de dor, e assim sem mas, nem talvez, eu consigo me aconchegar em seus braços e já não há importância se os dias são cinzas lá fora, se os meteoros caem rapidamente do céu, se o caos se espalhou. Não importa mais nada, a ressaca do mar se mistura com as lágrimas derramadas na noite passada, a maquiagem borrada se apaga e dá lugar a face limpa e clara, e nada faz mais sentido do que a química composta por seu perfume misturado ao meu. Os dias cinzas e melancólicos passam como areia na ampulheta dos sonhos enquanto caminhamos de mãos dadas ao som daquele velho violino. O outono é o cenário da nossa peça, e cada ato vai se desencadeando em total maestria.

No final da noite, talvez no final da estação, parafraseio Gabo e deixo no espelho do seu banheiro escrito em batom vermelho:
Menino, estamos sozinhos no mundo...

Que o outono dure para sempre.



sexta-feira, 14 de março de 2014

Vinte e Poucos Anos


Com o passar do tempo chego a conclusão de que a vida é uma coisa efêmera e por mais que você hesite em seguir a diante, ela, como um pai teimoso, vai te pegar pelo pulso e te arrastar pra onde quiser.
Com o passar do tempo percebemos que nossas escolhas se resumem a aceitar a vida como ela é, ou cair de cabeça em um paradoxo de liberdade que acaba se tornando contrário a tudo que muitas vezes você acredita e aceita como correto, é uma escolha, a difícil escolha de encarar demônios que já conhecemos ou assumir o risco de encontrar novos que podemos não conseguir destruir.
Enquanto isso, os dias vão passando, as horas, os cabelos vão ficando grisalhos e a face enrugada, a mão já não tem toda aquela força e os olhos já não enxergam tão bem assim o caminho a ser seguido, o tempo não respeita a inércia da indecisão e como um vilão de filmes infantis ele te tira o bem mais valioso, a possibilidade de correr riscos. Com o passar do tempo aprendemos a ser prudentes, a sermos covardes, já não nos levantamos mais perante as injustiças porque sabemos que aquilo sempre vai ser assim, foi assim desde o inicio dos tempos, não temos a ânsia da juventude de mudar o mundo e deixa-lo melhor, deixamos isso pras gerações futuras, as gerações que não saberemos mais como criar.
Meu maior medo é olhar pra trás e perceber que deixei de viver, de correr riscos e apostar em coisas novas por medo de perder minha sustentação em um mundo hipócrita e que ri da inocência cor de rosa que cultivei durante tanto tempo trancada numa caixinha de cetim, tenho medo de ficar velha sem a sensação boa do dever do cumprido, sem dar valor a cada fio de cabelo branco, a cada tatuagem em uma pele já tão gasta que conta a minha história.
Eu vou envelhecendo com medo de perder a sensibilidade de esperar o por do sol, com medo de não saber mais conversar com animais, com medo de não conseguir admirar a beleza de uma flor sem sentir a tentação de arrancá-la do jardim, eu estou envelhecendo, e tenho medo, muito medo de não conseguir mais voar. E por isso todas as noites eu ainda rezo o Santo Anjo, faço um pedido pra primeira estrela do céu, e repito como aprendi com o Caio todas as manhas: Que o dia seja doce como brigadeiro.

Amém.

“Logo os meninos perdidos viram que tinham sido uns burros por não ficarem na ilha. Mas agora era tarde demais, portanto eles se conformaram em ser tão normais, quanto eu, você ou qualquer zé ninguém. É triste contar isso, mas aos poucos eles foram perdendo a habilidade de voar. Eles disseram que era falta de prática, mas a verdade é que não acreditavam mais.”

Peter Pan – J.M Barrie

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

2014


"Não ache que uma noite específica mudará sua vida, seus planos.
Sua vida precisa de muitas e muitas noites para mudar de rumo, para trocar de planos.
A decisão é um estalo, claro, que acontece cedo ou tarde na vida, no rumo, nos planos de cada um. Mas nenhum estalo nasce do nada, nenhum rumo parte para o nada, nenhuma vida acontece por nada: são dias e dias e dias e dias de tentativas e erros e fracassos e esgotamentos.
Não vai ser hoje que você vai abraçar todo mundo que ama, realizar todos os sonhos do mundo.
Não vai ser hoje que você vai dizer todos os seus silêncios, silenciar todas suas ofensas.
Não vai ser hoje que você vai idolatrar todos os seus inimigos, culpar todos os seus amigos.
Não vai ser hoje que você vai se despedir de todos os seus amores, de todas as suas imbecilidades.
Por enquanto, viva uma noite de cada vez, uma loucura de cada vez, um perdão de cada vez, uma vez de cada vez.
Não vai ser hoje que você vai mudar o seu mundo. Ele já está mudando desde que você se permitiu chorar nas mãos da parteira. Agora, parta para a vida com a certeza de que uma noite específica não mudará sua vida, seus planos, seus rumos.
Repito: não vai ser hoje que você vai mudar o seu mundo. Ele está mudando o tempo todo desde ontem. Ele mudará o tempo todo até amanhã.
[amanhã quem sabe; Antônio]."

Obrigado pelos peixes 2013.