domingo, 22 de fevereiro de 2015

Vinte e Seis


E ela que tinha tanto medo da solidão, encontrou nela seu maior abrigo.
E ela que tinha tanto medo de sentir frio, resolveu que o calor já não lhe satisfazia mais,
Brincar de primavera ficou maçante e o inverno se tornou mais belo a seu olhar.
E ela que sempre gostou de cor de rosa, acinzentou o mundo pra que nada mais a machucasse.
E ela que sempre gostou de poesia, deixou os versos de lado pra decorar formas, padrões sistemáticas de uma felicidade.
E ela que sempre sonhou em ser diferente, moldou seus padrões e se igualou ao mundo.
E hoje Wonderland ficou para trás.
O coelho branco passou rápido demais e ela não conseguiu acompanhar.
O chapeleiro já não faz mais seu chá,
Os caminhos se tornaram tortuosos de se seguir.
Ela acorda todos os dias, suspira, mais um...
Ela abraça, ela beija, ela transa...
Ela bebe, ela fuma, se embriaga nas palavras das pessoas ao redor.
Ela viaja, conhece o mundo,
Ela aprende línguas, ela ganha dinheiro,
Ela vê filmes, entra na briga pelas mulheres, pelas crianças, mas não por ela, não se importa mais.
Ela lê, mas não sonha.
A caixinha de música parou de tocar.
Fios brancos começaram a ser trançados pelas suas mãos que agora carrega ouro e não mais prata.
Ela envelheceu, ficou mais bela, porém dentro dela é a fera quem reside.
A noite dominou seus olhos.
E mais um ano se encerrou hoje.
Mais velha, mais fria, mais calada, mais ela.