terça-feira, 29 de novembro de 2011

Relatos de quem perdeu suas asas:

Sempre fui feita de nuvens e altos voos, o chão me limitava e eu odiava o limite! Sempre preferi os ares, até que numa noite escura eu caí de uma altura considerável. Fui perdendo altitude e enfim, a queda!

Doeu... doeu muito...

E só havia o chão, o frio e o escuro! A noite se mostrava tão longa e o dia parecia tão longe e eu precisava da aurora pra sair dali. A copa das arvores não me deixava ver a luz da lua nem das estrelas. Eu estava só no escuro!

A noite foi longa e desesperadora, o único som que havia era dos meus soluços! Foi tanto tempo no chão que os soluços se transformaram em murmúrios e depois em apenas sussurros, até que veio a calmaria...o silêncio...

Foi no silencio que eu me levantei e comecei a furar a teia daquele quadro sinistro, era preciso sair dali! O fio foi bordando estrelas na noite com um tom de ousadia e aos poucos eu fui vendo alguma luz. Das lágrimas que rolaram produzi poemas e canções, até que o cansaço foi mais forte. Ameaçou. Era a hora mais escura, aquela que antecedia o começo do dia. Eu quis desistir e me render ao cansaço, mas ao longe os pássaros começaram a cantar, eram a cotovia e o rouxinol.
Sorri.

E depois da última travessia para longe do medo e da agonia, a noite terminou! A manhã nasceu limpa e no chão para minha surpresa haviam flores, borboletas, árvores, pedras, grama verdinha, orvalho, joaninhas, havia tanta vida!

Quando enfim consegui ver o céu tudo era lindo! Apesar da claridade súbita ferir meus olhos eu não consegui fechá-los de tão admirada! O céu estava de um azul fraquinho, tingido com branco e dourado! Era ainda mais lindo visto daqui debaixo!

Aqui do chão, com tanta coisa vibrante, aconchegante e viva, eu me sentia segura agora! O céu ficou sendo só uma recordação, algo para ser guardado, e de vez enquanto, lembrado com um leve sorriso de satisfação. Não como algo arrancado, mas como algo renunciado por ser a melhor escolha.

Hoje o chão não me limita, mas me sustenta. Eu sei das marcas das minhas asas caídas, sei que um dia eu as terei de volta, mas por enquanto eu prefiro caminhar. As estradas são de pedras e machucam por vezes os meus pés, mas as flores com suas cores vibrantes ao redor dela compensam o sofrimento da caminhada, a agua fresquinha do riacho onde me sento a margem pra descansar é como um presente pela renúncia de voar entre as nuvens.

Ainda preciso descobrir tanta coisa aqui no chão, percorrer tantos caminhos e para quem sabe um dia reaprender a voar!

E foi assim, que eu, uma eterna apaixonada do céu, aprendi a amar o chão!

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