quarta-feira, 25 de julho de 2012

Do you remember me? How we used to be?


Perto dessa velha janela empoeirada, hoje tão desgastada pelo tempo era onde ela ficava, linda e branca.
Chego perto para observar a paisagem e percebo as arvores modificadas pela força do inverno, tão diferentes de quando era primavera, aquelas belas manhãs de primavera, onde seus galhos ficavam repletos de flores cor de rosa.
Foi por aquela janela que observava o mundo, as tardes alaranjadas de outono, as luas “sorriso de gato da Alice”, que se transformavam em luas “de lobisomem”, o balanço rude dos galhos da arvore em noites de tempestade que sempre me faziam esconder debaixo das cobertas, o cheiro da terra molhada, o piar de uma coruja.
Olho para o quarto e está tudo conservado. Tudo exatamente como eu deixei muitos anos atrás. Empoeiradas estão às lembranças de criança, ficar brincando de balançar na arvore do quintal ou de esconde-esconde no jardim, empoeirados estão também os sonhos da juventude de sair pelo mundo em busca de aventuras, ou encontrar o caminho que leva a Terra do Nunca e ser criança para sempre.
Sento-me na cama que um dia fora lar dos meus sonhos doces e penso em tudo que vivi e perdi desde que abandonara o ninho e fui voar.
A cor rosa da parede está meio desbotada, mas ainda conserva os pequenos desenhos que eu fizera quando mais nova, o sistema solar ainda está lá, assim como os ursos ainda conservam aquele cheiro doce de jasmim...
As coisas mudaram tão bruscamente que a gente só percebe quando para e escreve sobre elas.
Olho para a janela mais uma vez...ela ficava ali, me recordo, onde será que foi parar?
Começo a fuçar num armário repleto de recordações. As roupinhas de boneca, os perfumes, as casinhas...então de repente a encontro... Ela não mudou nada. Para ela o tempo não passou, está intacta, sem sombras de dúvida a mágica que a envolvia na infância continua a sobreviver nesses tempos nublados.
Abro com delicadeza a tampa com medo do que possa encontrar lá dentro, e lágrimas me veem aos olhos quando percebo que ela ainda está lá, dormindo um sono profundo como o da Bela Adormecida, esperando alguém vir acorda-la. Com muito cuidado giro a cordinha e a desperto, em cima da tampa espelhada ela começa seu bailado, minha doce bailarina agora esta desperta...minha caixinha de música preciosa ainda vive.
A coloco com cuidado em cima da beirada da janela onde sempre esteve, e sento-me ao seu lado como fazia quando criança. Ela, como quem acabará de despertar de um longo sono, está cheia de vida e não para um segundo de bailar em todos os cantos do espelho. Minha doce bailarina, como pude esquecer de você!
Sua música vai entrando em todas as frestas abertas naquele quarto e na minha alma, vai preenchendo tudo com suas notas doces e meus olhos vão seguindo seus passos, o tempo não passou para ela, uma bailarina de sorte ela é.
Enquanto ela dança, percebo que assim como a bailarina, é necessário dar um impulso em nossa vida para acordarmos de vez em quando, talvez precisemos que alguém levante a tampa e dê corda em nossos corações para que tudo volte a ter som e não fique mais tão parado, ou apenas um mecanismo que nos faça acordar e abrir os olhos para as notas musicais que giram em torno de nós, a inércia em vida é o pior mal que pode se assolar sobre uma pessoa.
Assim como a bailarina só tem razão quando se está dançando, a gente só tira proveito dessa vida quando se está feliz e realmente viva.
A música fica muda e a bailarina acaba seu bailado, sorrio, fecho com cuidado, e a guardo. Desço as escadas apressada e encontro minha sobrinha no andar debaixo brincando na cozinha com a minha mãe.
_ E então, sentiu saudades do seu quarto filha? _ pergunta quando me vê.
_ Só percebi como me senti vazia sem ele quando voltei a revê-lo_ respondi sorrindo_ Hey gatinha, tenho uma coisa pra você. _disse isso e peguei Malu no colo. _ É um presente muito especial e tem que me prometer que vai cuidar dele como seu maior tesouro. Eu o ganhei quando tinha sua idade, e ele ainda está novinho. Você promete?
A menina brilhou os olhinhos e fez que sim apressadamente com a cabeça.
Desembrulhei a caixinha e lhe dei mostrando como funcionava, girei o mecanismo e a bailarina começou a rodopiar em frente aos olhos admirados de Malu, ela me abraçou e se sentou no chão da sala com seu novo presente, não tirou os olhos da bailarina nenhum minuto até a hora do almoço, em que disse na mesa.
_ Quero ser bailarina como a moça da caixinha que a titia me deu!
Todos sorriram.
Minha mãe depois do almoço disse:
_ Achei que você nunca daria aquela caixinha de música. Ela sempre foi tão preciosa pra você.
Eu a abracei:
_ Eu aprendi o seu segredo. Agora ando bailando por aí e observando o som que vem da minha caixinha de música. Um dia, a Malu também vai descobrir.




Dia 25 de julho – Dia do Escritor

Nota de Alice:
“Escritor é o artista que se expressa através da arte da escrita”

Que seja em livros, blogs, que seja conceituado ou apenas mais um desconhecido. Se você usa um papel qualquer ou um site na internet para transmitir suas emoções ou soltar seus pensamentos, se você usa as palavras como ajuda para transmitir o que sente, FELIZ DIA DO ESCRITOR!

“Quando dá essa vontade louca de morrer, é bom fingir ser um poeta.
É.
É melhor continuar escrevendo...”

Fernanda Young

Um comentário:

  1. Já disse que seus textos são muito bonitos? >< Capazes de prender a atenção de qualquer pessoa, pois você não apenas escreve, você tem o dom de colocar todos os seus sentimentos e emoções numa folha de papel (ou mesmo numa página de internet). Seus textos transmitem seu sorriso, suas lágrimas, suas angústias, sua felicidade... Impossível ler e não sentir o mesmo que você sentiu ao escrever... ><
    Feliz dia do escritor, Bo! Você pode não ser famosa, pode não ser reconhecida, mas pra mim, é a melhor escritora do mundo ><

    Te amo ♥

    PS.: Sério que você deu a caixinha?? O.O

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