quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Sabe aquele dia em que você procura um sentido em tudo, em que você fica em silencio e respira fundo sentindo um vazio que você não sabe de onde vem? Hoje eu acordei assim, me sentindo incompleta, vazia, triste, mas sem motivo algum... Aí de repente me deparo com esse texto, e um pouco de brilho saiu dos meus olhos, acho que encontrei o que procurava, quem sabe essa solidão e esse vazio que está dentro de mim seja apenas questionamentos de será realmente possível um dia melhorar o mundo???

“Ontem acordei melancólico. Sofri, talvez, uma recaída do espírito juvenil, e me senti como se estivesse carregando o mundo nas costas. Mas também não sei se era essa a razão daquela tristeza não localizada e sem causa aparente. Porque é isso a melancolia. Pelo menos é o que se aprende na diferença que o Freud faz entre ela e o luto. E como a cama estivesse pesada, resolvi levantar para enfrentar as agruras da vida.
Estava tomando café, olhos boiando na superfície marrom, quando fui perturbado pela primeira pergunta. Bem provável ter sido a mesma que mexera em meu humor na hora de acordar. E se você está pensando em frescura existencial do tipo “de onde vim, para onde vou, quem sou eu?”, etc. que nos caracterizam a adolescência, como a pergunta que me perturbou, sinto dizê-lo,  mas seu pensamento sofre de leviandade. Isso não são perguntas que em perfeita sanidade se faça depois dos vinte, não é mesmo?
A pergunta da maior gravidade que me fiz foi: É possível melhorar o mundo? E antes de pensar em uma resposta positiva ou negativa, percebi que era preciso determinar em que me parecia que o mundo carece de melhora.
Cheguei à conclusão de que a vida do homem em sociedade não é lá grande coisa. Dominantes e dominados, possuidores e despossuídos, letrados e iletrados, os que trabalham e os que se divertem, os que gozam a vida e aqueles que a sofrem. Ninguém vai me convencer de que o mundo está bem organizado. Além do Cândido, só um vizinho meu, que não conhece o Voltaire, consegue acreditar.
Então, pensei, diminuir as distâncias que separam uns homens dos outros, eis aí alguma coisa que deveria melhorar. Tomei um gole de café e me senti no caminho certo, estava conseguindo racionalizar uma de minhas preocupações.
Um peso a menos. Foi quando me lembrei de que há mais perguntas a responder antes de decidir pelo sim ou pelo não à primeira pergunta. Se é para diminuir as distâncias, quem vai fazê-lo?
O tempo, a escola, a política, as igrejas, quem? Pois o tempo é uma coisa mais do que antiga, a escola é mais moderna, mas já soma alguns séculos (para não contar com as academias gregas), a política nasceu com o segundo homem, porque um só nunca está em relação, e as igrejas, em algumas de suas formas, são milenares. E as distâncias não diminuem.
Descobri que além dessas, existiam muitas outras perguntas sem resposta. Saí de casa um pouco frustrado, mas com a sensação de que existe resposta, sim. Me auscultei durante o caminho, quando descobri que não sou diferente de pelo menos noventa por cento dos cidadãos, e encontrei num canto da consciência essa vontade de ver um mundo melhor. Mas fiquei quieto, como faz a maioria, pois tais pensamentos são tidos por muitos como ridículos, são pensamentos iluministas e o Iluminismo está morto e enterrado, e o Fukuyama decretou o fim da História, quem é que não sabe?
E você, o que acha? É possível melhorar o mundo?
Quanto a mim, tenho lá minhas dúvidas, mas quando vejo aquelas pessoas reunidas em Porto Alegre tentando entender o mundo, propor mudanças na vida, preocupados e insatisfeitos com o que existe, confesso que me sinto feliz.”

Garrafa ao mar
Por Menalton Braff

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