quinta-feira, 13 de junho de 2013

Querido Príncipe Encantado por Louise Mira


Você foi minha primeira paixão platônica – eu era só uma menina quando te vi pela primeira vez, em um VHS da Disney. E, junto com 90% da população feminina nascida nos anos 90, decidi que iria te encontrar.
Por você, fiz loucuras de amor: mordi maçãs, perdi sapatos e beijei sapos. O resultado? Uma baita indigestão, um prejuízo de 200 reais (além do mico de voltar pra casa descalça).
Cresci ouvindo que você chegaria, num carrão/cavalo branco, sem que eu precisasse fazer nada além de “ser boazinha” e “ser linda” – ah, espelho, espelho meu, existe alguém mais toda-trabalhada-no-salto-na-escova-e-no-carão-da-hora-em-que-acorda-à-hora-em-que-vai-dormir do que eu?  Aliás, dormi mais de vinte horas no último sábado, e você sequer apareceu pra me despertar com beijo de amor verdadeiro! Eu, hein? A gente fica aqui, na luta, na atividade, sempre à sua espera, e você nem dá as caras?! Foi porque cheguei tarde da festa e já tinha virado abóbora? Mas eu nem tirei a make pra dormir, só pra acordar linda pra você! Será que foram os dois dedinhos que pedi pra cabeleireira tirar das minhas longas madeixas? Mas eu continuo firme no Projeto Rapunzel, só pra você se enrolar nos meus cabelos ao som de Wando (só que não)!
Eu fiz tudo certinho! Eu juro! Cadê o meu “felizes para sempre”? Satisfação garantida, ou minhas ilusões de volta?
Resumindo, Vossa Alteza: venho por meio desta expressar minha profunda decepção para com esta enganosíssima propaganda que se chama “conto de fadas”. Saiba que sou moça plebeia, que trabalha das oito às seis de segunda a sexta-feira e que mata um leão por dia (quequié? Tava achando que só você pode matar dragão, monstro e o raio que o parta?). Sei muito bem me defender quando a bruxa tá solta e, não, não preciso ser salva! Aprendi a construir o meu próprio final feliz: afinal, na minha terra, espetar dedo em roca pra se dar bem é chantagem emocional.
Ouvi falar do seu baile-balada, mas não tenho grana pra área VIP – e bem sei que, como bom mauricinho que és, não ficarás no meio da muvuca. Você deveria se inscrever num daqueles programas de namoro da TV – quer alternativa mais moderna do que essa? Baile, pra quê? Cria logo uma fanpage: você vai ver o tanto de mulher em busca do Príncipe Encantado!
Pensei em preencher uma reclamação formal ao Sindicato Real das Fadas Madrinhas e dos Profissionais do Encantamento, mas achei melhor acordar pra vida e continuar sonhando em minha própria realidade. E, enquanto minhas amigas continuam sonhando em te encontrar – ou a qualquer nobre membro da seleta família Encantado –, eu continuo trabalhando das oito às seis, saindo com o pessoal do trabalho na sexta-feira, com as amigas no sábado, fazendo as unhas quando dá, e, no domingo, sonhando em poder sair com aquele cara legal de novo. Decidi esquecer sapos e príncipes e me encantar com uma nova raça: o Homem com H. Aquele que ama se enrolar nos meus cabelos, dois dedos ou três palmos mais curtos. Que me pega pela cintura e tem a sensibilidade de saber se preciso de um beijo na testa ou na boca. Que me acha linda, seja toda trabalhada na make + salto ou na camiseta de banda + cara lavada. E daí que ele não tira aquela bermuda e não faz a barba há semanas? Meu coração bate mais forte quando o vejo ali, pertinho de mim.

Disse o poeta, “quem é de verdade sabe quem é de mentira”. E, de mentira, já basta o Pinóquio – primo de primeiro grau dos saponildos de plantão. Não me leve a mal. É como as pessoas dizem quando não estão mais a fim: não é você, sou eu.
Atenciosamente,
Plebeia
Ps: ainda suspiro horrores vendo A Bela e a Fera. Certos hábitos são difíceis de largar.

Muito lindinho *-*

Um comentário:

  1. Estou alegre por encontrar blogs como o seu, ao ler algumas coisas,
    reparei que tem aqui um bom blog, feito com carinho,
    Posso dizer que gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns,
    decerto que virei aqui mais vezes.
    Sou António Batalha.
    Que lhe deseja muitas felicidade e saúde em toda a sua casa.
    PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se o desejar
    siga, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.

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