terça-feira, 22 de março de 2011

APAGANDO...


Hoje é um grande dia,

Grande porque, grande porque, sei lá, acho que porque será longo.
Há certeza nesse dia.
Não aquela certeza vulgar;
a certeza de um falso testemunho que se esconde entre aspas.
Mas a certeza de que é a Certeza Aquela,
Aquela que talvez nunca se fez presente em meus dias tão escuros e ofuscados.

Hoje é o dia em que morrerei.
Hoje é o dia em que morrerei
e o sol não apareceu nesse dia que sinto que algo está a se apagar.
Há uma luz nessa escuridão,
uma voz na luz do fim do arrebol que se livra das nuvens,
bate na minha face e diz:
“Segue e apague a Luz”.

Tudo que fiz foi sempre banhado à incerteza
e só via como certo e objetivo a causa.
Mas hoje é diferente;
a causa, ela não tem importância,
e a única certeza está no efeito de meus gestos já definidos e concluídos.
Há uma mudança certa nessa certeza da mudança.

O dia lá fora, ele está se apagando enquanto resplandece mais e mais.
E, se as pálpebras cobrem-me os olhos,
e a escuridão toma conta de meu olhar…
há Algo a me Iluminar.

Eu que sempre olhei para a certeza pensando em deflorá-la,
hoje meu saber consciente olha para mim como quem esconde um segredo universal.
Voei antes de bater as asas,
e não importa o que faça,
pense ou sinta agora,
nada vai apagar o que ainda está por vir;
o espaço mudo que separa essas linhas
do momento sorridente de meu m’encontrar.
Estampas n’alma.
Nada jamais será igual depois de cantado;
uma canção composta nada jamais será senão uma canção composta
– ecos na existência do ter existido.

Pousou minha fé.
Esperança cuida das marcas que traçou.
Minha convalescença,
ela faleceu antes de mim?
A primeira hora do dia;
o auge da noite,
quanto tempo falta?

Corda?
Não preciso dela para falar com Papai do Céu.
O frio de uma lâmina que retraia a garganta que queima mais uma vez?
Não.

Morrerá o pronome e o que ele É.
Aquele que só existe n’outro.
Apaga a escuridão.
Certeza dos comensais do outro lado,
eles esperam – eu vou.

Essa é minha carta de despedida para mim mesmo.
É hora de remar.
Hora de amar.
Do s’enterrar.

Adeus, meu igual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário