segunda-feira, 2 de setembro de 2013

19


“Acredito que aos 19 a pessoa tem o direito de ser arrogante; geralmente o tempo ainda não começou suas furtivas e infames subtrações. Ele nos leva os cabelos e o poder de explosão, mas no fundo leva muito mais.
Quando você tem 19, pode-se imaginar vagamente tendo 40 anos, mas 50? Não. 60? Nunca! Sessenta estava fora de cogitação. E aos 19 é assim que deve ser. Dezenove é a idade em que você diz: Cuidado mundo, estou fumando TNT e bebendo dinamite, por isso, se você sabe o que é bom pra você, saia do meu caminho...
Os 19 são uma idade egoísta, que restringe severamente as preocupações da pessoa. Eu tinha muita coisa na minha frente e era o que me importava. Tinha muita ambição e era o que me importava. Tinha uma maquina de escrever que carregava de uma porra de apartamento pra outra, sempre com alguma coisa pra fumar no bolso e um sorriso na cara. Os compromissos da meia-idade estavam longe, os ultrajes da idade avançada, além do horizonte, meu bolso estava vazio, mas a cabeça estava cheia de coisas que eu queria dizer e o coração cheio de histórias que queria contar. Porém, o mundo acaba sempre lhe enviando a bosta de um Patrulheiro para retardar o seu avanço e mostrar quem está no comando. Você que está lendo isso sem a menor dúvida já encontrou (ou vai encontrar o seu); eu encontrei o meu e tenho certeza que ele voltará. Ele tem o meu endereço. É um cara mesquinho, um Mau elemento, o inimigo jurado da piração, da putaria, do orgulho, da ambição, da música alta e de todas as coisas dos 19 anos.
Mas ainda acho que essa é uma idade boa, talvez a melhor idade. Você pode rolar no rock a noite toda, mas quando a música cessa e a cerveja chega ao fim, você consegue pensar. E sonhar sonhos grandes. O Patrulheiro mesquinho acaba mais cedo ou mais tarde podando você e, se você já começou pequeno, pois é, quando ele acaba, não sobra nada além da bainha do seu corpo. Arranje outro!, ele grita e sai marchando com o bloquinho de multa na mão. Por isso um pouco de arrogância (ou mesmo um monte) não é tão ruim, mesmo que sua mãe é claro, tenha dito outra coisa. A minha disse: O orgulho vai embora depois da queda Stephen, disse ela... e eu constatei que você acaba mesmo caindo. Ou é empurrado pra vala. Aos 19, podem mandar você parar no acostamento, sair da porra do carro, levar sua dolorida queixa (e sua bunda ainda mais dolorida) para o meio da estrada, mas não podem apreendê-lo quando você senta para pintar um quadro, escrever um poema ou contar uma história, pelo amor de Deus, e se por acaso você, que está lendo isto, e é ainda muito novo, não deixe os mais velhos e supostamente mais vividos lhe dizerem nada diferente. Certo, você nunca esteve em Paris. Não, você nunca correu com os touros em Pamplona. Claro, você é um moleque que três anos atrás ainda não tinha cabelo debaixo do braço... mas e daí? Se você não começa grande demais para sua calça, como vai caber dentro dela quando crescer? Deixe que ela rasgue, não importa o que os outros digam, esse é o meu ponto de vista.”

O Pistoleiro – A Torre Negra
Stephen King


Pr’aquela que incentivou as minhas aventuras na Terra Média, e com quem eu posso sempre conversar sobre a poesia do mundo.
Desejo que seu patrulheiro se perca no caminho, que seu coração tenha sempre histórias pra contar e que você seja sempre do tamanho dos seus maiores sonhos.
Congratulações Niënor Níniel 
Pode soprar a velinha agora *-*




Um comentário:

  1. Demorei pra me lembrar de que já conhecia esse texto d'A Torre Negra. O Stephen King é ótimo (salvo certas bizarrices), mas, de início, poderia muito bem ser autoria sua, e muita coisa poderia muito bem ser dita pra mim.


    "O Patrulheiro mesquinho acaba mais cedo ou mais tarde podando você"
    O tempo vai nos desapaixonando aos poucos... Vamos nos homogeneizandos, nos assumindo como apenas mais um. Será que precisa ser assim? Eu queria que a face cada vez mais borrada e ensombrecida no espelho me respondesse ao invés de se mostrar cada vez mais apagada. Mas é isso que ele faz, não é? O Patrulheiro e o Tempo: nos podam, nos levam a força de explosão, nos pressionam, diminuem, apagam. Nos fazem grãos de areia.
    Sim, nós somos grãos de areia. Somos menos. Átomos de hidrogênio flutuantes, não é o que ele diz? Mas e daí? Por que, então, não nos definirmos - no mínimo? Sem UM, O grão de areia, que seja, mas O.
    De qualquer modo, é meio inútil, querer ser definido perde o sentido.
    "Tudo o que é sólido se desmancha no ar". O não sólido também. Os sonhos, o Gaiman diz, e o bater do coração.

    Obrigada, Marcela, pelo texto e por tudo. Me fez voltar a pensar, e isso é sempre bom. E obrigada por ser também um pedacinho de poesia, que tentar ser mais que grão de areia - que seja um ponto final ou um pingo no I, e que seja em forma de coração!, haha, assim a gente aglutina, divide, aumenta, e a poesia prevalece.
    Enquanto ela viver, como a Torre, ela nos mostrará para onde rumar. (:

    Acho que agora já sabe meu pedido. Mesmo assim não o direi, pra ele se realizar.

    fffuuuu!

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