terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Na Fronteira entre o Bem e o Mal - PARTE 7



Pareciam anos, muitos deles, o tempo naquela cela esperando pela misericórdia e salvação que nunca chegariam.
Abigor estava fraco demais para resistir quando o empurraram cela a dentro novamente. Estava ainda fraco de seus últimos dias no Reino da Luz, em companhia de sua doce princesa. Em seu intimo, o sábio demônio sentia que o fim estava próximo. A profecia.
Não, não deixaria que isso acontecesse. Ele sobreviveria. E lutaria bravamento ao lado de sua amada. Juntos eles conseguiriam vencer a batalha mais difícil de suas vidas e suavemente acariciou a tatuagem de rosa que crescia em seu braço. Juntando o resto de forças que lhe sobravam, entoou o canto mental para chamar seu dragão, ele colocaria esse Castelo abaixo e depois caçaria cada um dos demônios que um dia ousaram trancafiá-lo nessa cela.

**

Pareciam anos, muitos deles, o tempo naquele reino passava devagar desde que Abigor deixará sua companhia.
Um Conselho de urgência havia sido reunido naquela tarde e a Princesa deveria comparecer imediatamente. Seu coração apertado já sabia o que as bocas naquela sala teimavam em calar, o equilibrio do Universo havia sido rompido. Luz e Trevas dançaram juntos por uma noite, fazendo com que o a história como a conhecemos fosse remodelada. Trevas dando sua vida a Luz, Luz se sacrificando pelas Trevas, nada dali para frente seria o mesmo.

_ Como suspeitávamos, o "ato de inocência" da nossa jovem princesa trouxe a desgraça ao nosso reino._começava o Primeiro Ministro com hostilidade após o grande silêncio_ Nossos informantes acabaram de trazer noticias do Reino das Trevas. Princesa, seu belo demônio está preso, a beira da morte, mas antes todos os segredos de nosso Reino foram retirados dele. Os demônios estão vindo, todas as criaturas da noite estão se preparando para o ataque, a Guerra está aqui.

Enquanto a platéia murmurava apreensiva, a Princesa engolia a seco o peso que se apossara ainda mais de seu coração, Abigor, seu demônio, estava morrendo, e ela não poderia nada fazer, seu Reino precisava dela, crianças sofreriam vendo a guerra depois de tantos anos, por ela, porque ela tolamente trouxera um dos demônios mais perigosos que já caminharam pela terra ao seu reino, porque ela se apaixonara por ele. Uma mistura de raiva e dor imundaram seu coração, sentimentos nunca antes sentidos, ela sentiu uma onde de energia percorrer suas asas onde agora estavam tatuadas as linhas negras que Abigor lhe dera ao salvar sua vida.

_ Se existir uma Guerra, nós venceremos.
A multidão se calou espantada pelo tom de voz da Princesa, acostumados com a sua suavidade, era a primeira vez que ela soava intimidadora.
_ Primeiro Ministro organizaremos agora com ajuda de Nostradamus um plano para proteger as crianças e idosos, os  levaremos para a cidade secreta dentro da Montanha. Abigor não esteve lá, e nossos inimigos não podem saber da sua existência. Cada mulher e homem capaz de lutar lutará ao meu lado, nosso Reino tem os melhores guerreiros e venceremos essa Guerra, eu serei o escudo do meu povo, e quando essa Guerra acabar a Escuridão será banida para sempre desse mundo. Dohko reúna seus guerreiros, nessa noite, a Luz deverá continuar a brilhar.

A Princesa sabia da Profecia, mas ela sabia também que mais forte do que todas as profecias do mundo era o amor, e amar era o que ela mais sabia fazer, foi por amor ao seu povo que ela se tornara Princesa, foi por amor a Abigor que ela o salvará da morte certa, e ao pensar no demônio seu coração apertou e um gemido de dor saiu de seus lábios. Ela o salvaria, esperava que chegasse a tempo, mas o salvaria.



"Love can be like poetry of demons
Or maybe, God loves complex irony?"

Links para as primeiras partes dessa história:





domingo, 24 de janeiro de 2016

Em alguns dias tudo vai mudar...

Hoje do nada relembrei a senha do blog e entrei pra ver como tudo estava. Como uma casa abandonada por muito tempo tudo se encontra no mesmo lugar em que deixei da última vez que estive aqui. As palavras estão encobertas por lençóis brancos cheios de poeira, a louça suja ainda está na pia, a TV desligada da tomada pra esquecer das noticias ultrapassadas e violentas que insistem em chegar, os sentimentos ainda amontoados em cima do velho piano, todos guardados em seus devidos potes, rotulados como manda o figurino pois "não se deve de maneira nenhuma confundir sentimentos em minha idade, já estou naquela época em que as certezas devem ser absolutas e o caminho traçado será para sempre aquele em que estou". Ando pela velha casa sorrindo sozinha quando passo por um canto que me trás boas recordações, suspiro enquanto caminho pelas palavras que me deixaram marcas tão grandes e passo sem perceber a mão sobre o meu coração cheio de cicatrizes. Rio largo quando vejo a velha caixinha de música cor de rosa, e a pintura do Destino que tantas vezes me procurou para um bom papo. Sinto falta de conversar com ele...hoje seria um bom dia pra ele aparecer e conversarmos. Mas isso foi numa outra época...num outro eu. Vejo fotos antigas dependuradas na parede, eu e a minha mãe, eu e meu pai como homem de ferro, não conversamos mais hoje...vejo as velhas amizades enraizadas tão fortes dentro de mim que parece que os anos na verdade não se passaram, vejo os amores,...ahhh os amores. Relembro das promessas nunca cumpridas, dos sonhos que ficaram guardados pra sempre na caixinha de recordação em cima do armário, os sorrisos doces, a impressão de que tudo seria para sempre, mas uma única coisa fica em minha memória ecoando, aquela velha canção da Cássia, sobre as estações que mudam mas não mudam dentro de nós, sobre o pra sempre que sempre tem fim,

Sempre tem fim...sento na mesa, pego um copo d'agua, respiro fundo o ar empoeirado...

Acho que é sobre isso que escrevo hoje, sobre o fim.
Muitos anos atrás quando eu construí essa casa ela veio repleta de sonhos e planos, sobre sonhos de uma adolescente obcecada por cor de rosa, filmes da Disney, finais felizes, amor... não que não reste nada dessa mesma menina em mim, ainda amo cor de rosa, os filmes da Disney continuam sendo os meus preferidos, mas o amor e a parte dos finais felizes mudaram bastante, Meu príncipe encantado virou um cara de carne e osso, cheio de defeitos chatos e manias terríveis, mas que cozinha a melhor comida japonesa do mundo, que faz as melhores piadas do universo, e que torna a vida tão simples como respirar, o final feliz é assustador, porque eu não quero que ele chegue nesse exato momento, ok, se ele chegar tudo bem, mas eu ainda quero ver tanta coisa, viajar pra tantos lugares, conhecer tantas outras culturas e costumes que o final feliz parou de fazer sentido, a felicidade parou de ser obrigação e passou a ser sensação, sem compromisso de ficar, sem compromisso de estar presente o tempo todo. Amadurecer me tirou muita coisa doce que ainda se encontra nessa casa e que ficará para sempre aqui, mas amadurecer também me deu a chance de descobrir que na verdade eu ainda não sei de nada e que talvez eu nunca vá saber. Eu luto pelos direitos das mulheres, fui trabalhar com crianças que muitas vezes vinham de famílias totalmente desestruturadas, resgato animais de rua, faço boas ações, não porque eu almejo um céu, porque na verdade eu acho que ele nem exista, mas porque essas coisas fizeram de mim uma pessoa melhor, Eu comunguei com o mundo sobre deixar minhas fantasias de lado e tentar ajudar o meu próximo o máximo que eu conseguir, não porque é meu dever, mas porque eu devo uma pro mundo, afinal o universo sempre conspirou a favor dos meus sonhos e cara, ele me deu muita coisa assim, de "mão beijada".

Olho pra essas paredes pintadas de rosa, olho para a moça com a cavalo branco no riacho, o quadro que tanto me encanta, Alice nunca se esquecerá do seu mundo de maravilhas, mas agora tem um mundo de maravilhas que a espera lá fora. Talvez um dia eu retorne, talvez não, talvez eu comece a construir uma casa diferente, com uma lareira e paredes de tijolo a mostra, talvez.,.
Me levanto da mesa, coloco o copo na pia com algumas xícaras que o Chapeleiro deixou, ajeito os lençóis sobre as palavras, vou até o piano, abro os potes de sentimentos e espalho todos por aí, nunca gostei de rótulos afinal, sorrio enquanto contemplo no espelho meu corpo cheio de tatuagens, dou uma piscadinha pra mim mesmo.

Caminho até a porta,

Olho em volta uma última vez.

Adeus Alice,,,

Fecho a porta.

A partir de agora, o mundo se torna o jardim da minha nova casa.

segunda-feira, 6 de julho de 2015


Hei, quietinho, por favor, não se mecha.
Não saí do aconchego,
Está escuro lá fora
Está frio lá fora.
Fica aqui, em silêncio.
Volta a dormir.
É teu berço florido na minha imaginação
Tua respiração calma
Teu coraçãozinho batendo
Tuas mãozinhas pequenas que me fazem seguir em frente.
Hei pequenino fica aí.
Dentro de mim
O mundo aqui fora é sombrio
Dá medo...está perdido.
Aí dentro eu posso cuidar de você pra sempre.
Te proteger.
Te sentir
Te amar.
Você e eu somos um de alguma maneira mágica e misteriosa.
Hei meu amor eu nem sei teu nome
Nem sei como você é
Mas eu já te amo.
Te chamo de meu
Te encho de poesias
Te conto: “"Numa toca no chão vivia um hobbit...."

E você vai amar o Bilbo
Vai sonhar com dragões e princesas
E cavaleiros numa terra distante.
Mas querido eu te conto coisas mágicas
O Mundo de verdade é cruel
Por isso fica aí
Quietinho
Não se mecha
Fica aí dentro de mim
Porque eu já te amo tanto
Eu já vivo por você
E não quero e não posso
Te trazer pra isso aqui
Não posso fazer você ver as injustiças
A violência
A miséria do mundo
Não posso me perdoa.
Eu te amo
Mas não posso
Não quero ver seu rostinho com lágrimas
Não quero ver a vida te maltratar
Não quero ver você sofrer pelos bichos
Pela natureza
Pela mãe terra.
Por isso fica aí.
Hei meu amor, fica aí dentro pra sempre
Fica aí, junto de mim

domingo, 1 de março de 2015

Lullaby



Existe uma canção de ninar que nunca mais foi cantada, ela paira sobre a minha mente e em algumas noites ela entra em meus sonhos.
Uma canção que há tempos atrás era sempre repetida, quando nos despedimos ela invadiu nossos corações em lágrimas.
Uma canção que me acompanha e sempre que me sinto só a canto em minha alma.
Em noites frias, quando fecho meus olhos posso enxergar seu cabelo negro, seu violão, sentado em uma praça qualquer dedilhando a canção.
Acordo com a sensação de estar tão próxima e ao mesmo tempo tão distante.
Algumas coisas mudam para sempre, outras para sempre ficarão como lembranças, como uma canção de ninar que jamais foi repetida e jamais será.
Em voz alta ela silencia, dentro de mim ela pulsará, imortal.


“I never stayed anywhere
I'm the wind in the trees
Would you wait for me forever?”

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Vinte e Seis


E ela que tinha tanto medo da solidão, encontrou nela seu maior abrigo.
E ela que tinha tanto medo de sentir frio, resolveu que o calor já não lhe satisfazia mais,
Brincar de primavera ficou maçante e o inverno se tornou mais belo a seu olhar.
E ela que sempre gostou de cor de rosa, acinzentou o mundo pra que nada mais a machucasse.
E ela que sempre gostou de poesia, deixou os versos de lado pra decorar formas, padrões sistemáticas de uma felicidade.
E ela que sempre sonhou em ser diferente, moldou seus padrões e se igualou ao mundo.
E hoje Wonderland ficou para trás.
O coelho branco passou rápido demais e ela não conseguiu acompanhar.
O chapeleiro já não faz mais seu chá,
Os caminhos se tornaram tortuosos de se seguir.
Ela acorda todos os dias, suspira, mais um...
Ela abraça, ela beija, ela transa...
Ela bebe, ela fuma, se embriaga nas palavras das pessoas ao redor.
Ela viaja, conhece o mundo,
Ela aprende línguas, ela ganha dinheiro,
Ela vê filmes, entra na briga pelas mulheres, pelas crianças, mas não por ela, não se importa mais.
Ela lê, mas não sonha.
A caixinha de música parou de tocar.
Fios brancos começaram a ser trançados pelas suas mãos que agora carrega ouro e não mais prata.
Ela envelheceu, ficou mais bela, porém dentro dela é a fera quem reside.
A noite dominou seus olhos.
E mais um ano se encerrou hoje.
Mais velha, mais fria, mais calada, mais ela.



sexta-feira, 13 de junho de 2014


Enquanto as folhas das árvores caem pelo outono, eu sinto meus pés e corações congelar, será que ainda restam esperanças?

Talvez quando as sombras não forem assim tão espessas, e os dias voltarem a ser claros e doces, eu consiga enxergar o caminho por onde estou seguindo. Por enquanto os dias cinzas tomaram conta da minha mente, e navegar em meio a tempestade só faz com que percamos ainda mais a direção certa. Talvez quando a poesia voltar a fazer sentido, e as palavras voltarem a se unir em minha mente eu possa enxergar tudo que deixei passar.
A vida brota do caos...a mão que afaga perde a força, a palavra que ia ser falada encontra aconchego debaixo da língua e por ali fica, sem vontade de ser dita.

E no meio do caos eu vejo você...

…Shine on you crazy Diamond...

Como um cometa luminoso em um céu escuro, você ilumina o que há de triste, você ilumina o que há de dor, e assim sem mas, nem talvez, eu consigo me aconchegar em seus braços e já não há importância se os dias são cinzas lá fora, se os meteoros caem rapidamente do céu, se o caos se espalhou. Não importa mais nada, a ressaca do mar se mistura com as lágrimas derramadas na noite passada, a maquiagem borrada se apaga e dá lugar a face limpa e clara, e nada faz mais sentido do que a química composta por seu perfume misturado ao meu. Os dias cinzas e melancólicos passam como areia na ampulheta dos sonhos enquanto caminhamos de mãos dadas ao som daquele velho violino. O outono é o cenário da nossa peça, e cada ato vai se desencadeando em total maestria.

No final da noite, talvez no final da estação, parafraseio Gabo e deixo no espelho do seu banheiro escrito em batom vermelho:
Menino, estamos sozinhos no mundo...

Que o outono dure para sempre.



sexta-feira, 14 de março de 2014

Vinte e Poucos Anos


Com o passar do tempo chego a conclusão de que a vida é uma coisa efêmera e por mais que você hesite em seguir a diante, ela, como um pai teimoso, vai te pegar pelo pulso e te arrastar pra onde quiser.
Com o passar do tempo percebemos que nossas escolhas se resumem a aceitar a vida como ela é, ou cair de cabeça em um paradoxo de liberdade que acaba se tornando contrário a tudo que muitas vezes você acredita e aceita como correto, é uma escolha, a difícil escolha de encarar demônios que já conhecemos ou assumir o risco de encontrar novos que podemos não conseguir destruir.
Enquanto isso, os dias vão passando, as horas, os cabelos vão ficando grisalhos e a face enrugada, a mão já não tem toda aquela força e os olhos já não enxergam tão bem assim o caminho a ser seguido, o tempo não respeita a inércia da indecisão e como um vilão de filmes infantis ele te tira o bem mais valioso, a possibilidade de correr riscos. Com o passar do tempo aprendemos a ser prudentes, a sermos covardes, já não nos levantamos mais perante as injustiças porque sabemos que aquilo sempre vai ser assim, foi assim desde o inicio dos tempos, não temos a ânsia da juventude de mudar o mundo e deixa-lo melhor, deixamos isso pras gerações futuras, as gerações que não saberemos mais como criar.
Meu maior medo é olhar pra trás e perceber que deixei de viver, de correr riscos e apostar em coisas novas por medo de perder minha sustentação em um mundo hipócrita e que ri da inocência cor de rosa que cultivei durante tanto tempo trancada numa caixinha de cetim, tenho medo de ficar velha sem a sensação boa do dever do cumprido, sem dar valor a cada fio de cabelo branco, a cada tatuagem em uma pele já tão gasta que conta a minha história.
Eu vou envelhecendo com medo de perder a sensibilidade de esperar o por do sol, com medo de não saber mais conversar com animais, com medo de não conseguir admirar a beleza de uma flor sem sentir a tentação de arrancá-la do jardim, eu estou envelhecendo, e tenho medo, muito medo de não conseguir mais voar. E por isso todas as noites eu ainda rezo o Santo Anjo, faço um pedido pra primeira estrela do céu, e repito como aprendi com o Caio todas as manhas: Que o dia seja doce como brigadeiro.

Amém.

“Logo os meninos perdidos viram que tinham sido uns burros por não ficarem na ilha. Mas agora era tarde demais, portanto eles se conformaram em ser tão normais, quanto eu, você ou qualquer zé ninguém. É triste contar isso, mas aos poucos eles foram perdendo a habilidade de voar. Eles disseram que era falta de prática, mas a verdade é que não acreditavam mais.”

Peter Pan – J.M Barrie