E ela que tinha
tanto medo da solidão, encontrou nela seu maior abrigo.
E ela que tinha
tanto medo de sentir frio, resolveu que o calor já não lhe satisfazia mais,
Brincar de
primavera ficou maçante e o inverno se tornou mais belo a seu olhar.
E ela que
sempre gostou de cor de rosa, acinzentou o mundo pra que nada mais a
machucasse.
E ela que
sempre gostou de poesia, deixou os versos de lado pra decorar formas, padrões
sistemáticas de uma felicidade.
E ela que
sempre sonhou em ser diferente, moldou seus padrões e se igualou ao mundo.
E hoje
Wonderland ficou para trás.
O coelho branco
passou rápido demais e ela não conseguiu acompanhar.
O chapeleiro já
não faz mais seu chá,
Os caminhos se
tornaram tortuosos de se seguir.
Ela acorda
todos os dias, suspira, mais um...
Ela abraça, ela
beija, ela transa...
Ela bebe, ela
fuma, se embriaga nas palavras das pessoas ao redor.
Ela viaja,
conhece o mundo,
Ela aprende
línguas, ela ganha dinheiro,
Ela vê filmes,
entra na briga pelas mulheres, pelas crianças, mas não por ela, não se importa
mais.
Ela lê, mas não
sonha.
A caixinha de
música parou de tocar.
Fios brancos
começaram a ser trançados pelas suas mãos que agora carrega ouro e não mais
prata.
Ela envelheceu,
ficou mais bela, porém dentro dela é a fera quem reside.
A noite dominou
seus olhos.
E mais um ano
se encerrou hoje.
Mais velha,
mais fria, mais calada, mais ela.
Nunca pare de escrever... você é ótima. -*
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