“Há alguns meses, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor verdadeiro. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor verdadeiro. Mas vocês sabem a que me refiro.
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, entre olhares tímidos de dois estranhos e meia dúzias de palavras que se tornaram eternas. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegida, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético dele. Seus olhos me olhavam e me reconheciam de outro lugar, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come frutas, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Peixes. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Não queria nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente, que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração.
Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência. Sobretudo à noite, aos domingos.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor verdadeiro. Curvo a cabeça, agradecida. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. Mesmo nos dias de ausência encontro sua presença em minha alma”.
E que assim seja para todo sempre
FELIZ BODAS DE CHOCOLATE BO *-*
Assim será pra todo o sempre, minha Bo. Assim será até que não exista mais nada... Ainda sim duvido que acabe, acredito que mesmo quando nada mais existir isso que vivemos e sentimos ainda permanecerá... Dessa vez é eterno ><
ResponderExcluirTE AMO MUITO!
Feliz Bodas de Chocolate *_*