sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Estupro nosso de cada dia


Um ano da morte de uma indiana estuprada coletivamente num ônibus. O mundo ouviu falar. Protestos. Indignação mundial. Mas quer saber? Besteira!
Não é? Afinal, quem reclama disso é tudo feminista sem mais o que fazer. Sério, mulher sem louça pra lavar. Fica reclamando à toa, na verdade, elas que tem privilégios. Desde sempre, aliás. As mocinhas que não faziam nada, enquanto os bravos cavaleiros lutavam guerras sangrentas e perigosas. Hoje, elas ficam em casa cuidando de crianças e do lar (ou deveriam ficar, pelo menos), tarefa muito mais simples e certamente menos desgastante do que trabalhar oito horas por dia pra sustentar a família. Com certeza. É, é menos desgastante. E ainda reclamam!
E com o que elas têm que lidar? Uns “gostosa!” na rua? Umas apalpadelas no ônibus? É inocente, é um “elogio bruto”. A que isso pode levar? Estupro coletivo, no máximo. Besteira.
(Mas na hora de servir o exército ninguém quer, né, hahahaha, feministas escrotas sem coerência).
Na verdade, é tudo gorda. Tudo mal comida. Falta uma pica grossa pra essas insuportáveis. Que nem pra indiana. Reclamou, mas deve ter morrido gozando. Alguém pra comer pelo menos. Mulher feia tem que ficar feliz de ser estuprada, né? Alguém já disse isso. Sábias palavras, com certeza.
E, mesmo que seja bonita, devia estar se mostrando. Tinha que estar. Aí mereceu.
(A licença paternidade é muuuito menor que a licença maternidade. Reclamam à toa, essas feministas sem noção).
Um ano e continuam reclamando sem motivo. O mundo é igualitário. Machismo não existe. Tudo invenção. Querem uma ditadura das mulheres. Querem ter mais direito que os homens.
(Quão dura e sofrida é a vida do varão que precisa se privar de objetificar mulheres por aí para não ser confundido com estupradores. Ah, que falta de racionalidade!)
O quê? O que aconteceu com a indiana acontece o tempo todo em todos os lugares? Ainda? Ah, mas... Tem motivo. Elas provocam. O homem não tem culpa. Com uma saia curta daquela, tava pedindo! Ah, não tava de roupa curta. Mas alguma coisa fez pra provocar. Se não, né, nunca tinha rolado... Não fez? Bom, mas não importa.
Eu não sofro com isso, então foda-se. É tudo feminista escrota, irracional e cheia de mimimi. Deviam se dar por satisfeita da gente deixar elas falarem. Só falam merda mesmo, hein? Mulher é tudo burra! Hahaha!
Mesmo considerando que eu não faço a menor ideia do mundo em que elas vivem. Mesmo levando em conta que é terror absoluto cada olhar de um macho na rua, e até a própria vida em muitos casos. Não importa. É besteira. Essa indiana não devia ser martirizada. As mulheres deviam parar de mimimi.
Enquanto isso coisa mais séria acontece no mundo. Tipo... Minha mulher tá querendo trabalhar fora. Olha isso! Como uma família continua firme desse jeito?

E elas reclamando. Absurdo.
Um ano da morte da indiana?
Perto do que eu passo, isso não significa nada!

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João Víctor é escritor, filósofo e confia na capacidade das pessoas de entender sarcasmo.

sábado, 21 de dezembro de 2013

By blood and by me


Porque no final sobram as rimas das palavras nunca ditas e o pó dos sonhos nunca realizados.
Porque no final eu fecho a cortina sem nenhum aplauso.
Porque a realidade é que o pó de pirlimpimpim não me ajudou a voar,
E o amor ficou perdido em uma das esquinas do destino.
Porque no final a rosa desbotou e o branco do vazio tomou conta de tudo.
Porque no final seu sangue não foi suficiente pra me salvar
E minhas asas não estavam prontas pra voar.
Porque no final os anjos não eram tão bons assim
E as possibilidades de um final feliz se perderam nas páginas amareladas de algum livro na estante
Porque no final de tudo o colo quente e aconchegante da primavera virou outono,
E os olhos dele se perderam no meio da multidão
Porque no final, à noite, eu me sentei e chorei.
Chorei porque no fim, quando a Terra andar a ermo pelo espaço e a raça humana estiver extinta a marca da lágrima ainda estará no chão vazio.
Porque no meio de toda essa confusão de mentiras e hipocrisias é a minha lágrima a derradeira verdade.
Salgada marca o chão em silêncio
Em silêncio tudo se desfaz...

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

*♥* 28 *♥*

“Há um lugar onde os corações partidos deixam bilhetes pedindo ajuda a Julieta.
Foi lá que eu achei uma carta que mudou a minha vida para sempre!”

Quando assisti “Cartas para Julieta” eu fiquei imaginando como seria lindo ir para Verona, admirar a paisagem na sacada da casa de Julieta, escrever uma carta para deixar na sua parede e viver naquele universo shakespeariano por algum tempo.
Como eu não sei quando vou conseguir ir para Verona eu antecipei a minha carta e se eu pudesse ir amanha, ela seria assim:

Cara Julieta.
Por mais que durante séculos muitas pessoas julgassem sua história de amor de formas distintas, um paradoxo entre loucura e paixão, eu hoje consigo entender perfeitamente toda essa insensatez pela qual você passou. Mas eu gostaria que vocês não tivessem morrido no final, essa parte da história sempre me deixou tão triste. Eu espero Julieta que exista um mundo além desse aqui, e que você e o Romeu possam estar juntos lá ou então que suas almas tenham voltado pra esse mundo aqui com a certeza de dessa vez estarem juntas para sempre, mesmo que não sejam todos os dias felizes, mesmo que ás vezes existam brigas e desentendimentos eu tenho certeza Julieta que vocês seriam muito felizes, afinal o amor de vocês é aquele que supera tudo e emociona a todos.
Há algum tempo atrás eu conheci o meu Romeu e assim como você eu também não peço para que ele jure o amor dele pela lua, ou pelo sol, ou pelo céu e infinito, porque tudo isso parece tão efêmero perto da energia que paira quando estamos juntos, na verdade eu não quero palavras nem juramentos, eu só quero pra sempre aquele olhar que ele me dá quando estamos juntos, o carinho das suas mãos, o jeito doce de falar comigo, o cuidado com que cuida de mim. Nós estamos vivendo intensamente por vinte e oito meses uma das histórias de amor mais loucas que eu já conheci, cheia de aventuras, de drama, de romance e que eu tenho certeza está apenas começando.
Acho que você conhece um amor assim, daquele que duvidar das estrelas, do sol e da verdade é tão mais fácil do que duvidar dele. Você sentiu isso não sentiu? Pelo seu Romeu? A sensação de serem feitos um para o outro mesmo quando tudo parece separá-los? Aquela sensação de ter encontrado seu melhor amigo e seu maior amor ao mesmo tempo?  Eu estou presa nesse mundo tão seu Julieta, estou presa nesse sentimento que me faz esquecer de tudo e me manter alerta somente para ele. E tudo a minha volta me faz sentir a sua falta, me faz ficar com toda aquela saudade louca de abraça-lo, ficar pertinho infinito curtindo seu colo e seu carinho.
Pois você entende Julieta, quantos Romeus você acha que existe no mundo?  Aquele Romeu meio maluco, meio nada a ver com você, mas ao mesmo tempo compatível com tudo aquilo que você imaginava ser o cara que ficaria com você pro resto da sua vida. E mesmo que demorasse cinquenta anos para o nosso reencontro, e mesmo que eu tivesse que ficar uns dez correndo de um lado pro outro em rodoviárias pra vê-lo, eu ainda acho que valeria a pena, eu ainda faria tudo isso porque o verdadeiro amor não tem data de vencimento e nunca é tarde demais, não tem nada que seja capaz de fazê-lo durar menos pois ele se torna mais forte com o tempo, mesmo que pareça impossível continuar algumas vezes, é ele quem nos dá a mão e segura forte quando pensamos que estamos perdidos.
Quando estamos juntos é como manha de domingo, a gente quer que nunca acabe, que tudo fique sempre naquele aconchego, sem pressa, sem correria, apenas ele e eu, aquela vontade de não mover um músculo que seja, só as mãos pra fazer carinho e a boca pra aquelas conversas longas sobre coisa nenhuma.
E a gente merece Julieta, a gente merece dormir tranquilo toda noite, e acordar com o sorriso doce do outro, a gente merece amigos verdadeiros que sejam felizes com a nossa felicidade, merecemos leveza na alma e paz de espirito, porque agora vamos viver a melhor época da nossa vida, a época de descobrir o mundo e a nós mesmos, juntos finalmente sem a distância de milhas e milhas que tornava o nosso amor ás vezes tão dolorido. Mesmo que no fundo eu sinta medo, vou seguir seu conselho, eu só preciso ter coragem de seguir meu coração.
Enfim, querida Julieta, eu vim te contar do meu amor pra que onde quer que você esteja saiba que seus passos e sua história ainda continuam a inspirar outras pessoas que assim como eu acreditam que o amor é o melhor e único remédio pra alma do mundo, e acima de tudo que é possível no mundo de hoje ainda viver um grande e maravilhoso amor de verdade.

Bo, muito obrigado por fazer parte dessa história que um dia eu quero colocar no muro da casa da Julieta, muito obrigado por esses 28 meses maravilindos  e que a partir de agora sejamos ainda mais fortes e felizes.

FELIZ 28 MESES DE BO *-* *-* *-*
Te amo muito ♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥

♥♥♥♥♥♥♥♥♥ Rawwwwwwrrrr  ♥♥♥♥♥♥♥♥♥



“Presta atenção, presta atenção, presta bastante atenção… Eu moro em Londres uma cidade histórica, linda e vibrante na qual eu amo viver. Você mora em Nova Yorque que é super estimada. Como o atlântico é largo demais para atravessar todos os dias a nado, de barco ou de avião, vamos decidir isso na moeda. Mas se você não quiser aceitar isso eu deixo Londres com todo prazer se você estiver me esperando do outro lado, porque a verdade é que eu te amo, loucamente, profundamente, verdadeiramente e apaixonadamente!”
Cartas Para Julieta.


quinta-feira, 3 de outubro de 2013


“Eu me atrevi a falar sobre as árvores e fiz silêncio sobre os ossos secos. Isso me condenou a anos de solidão. Mas, se falei sobre árvores é porque acredito que são os poemas sobre árvores que ressuscitam os ossos secos espalhados no deserto. Visões de ossos secos não têm poder para dar vida aos ossos secos… Imaginei um político que nascesse da beleza. Lutam melhor os que têm sonhos belos. Somente aqueles que contemplam a beleza são capazes de endurecer “sem nunca perder a ternura”. Guerreiros ternos, Guerreiros que leem poesias. Guerreiros que brincam como crianças…”


(Rubens Alves - Se eu pudesse viver minha vida novamente)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Sinto que vou me apaixonar perdidamente...


“Você acreditaria que há uma criatura que transforma tudo o que olha em branco puro? Que há corpos de vidro afundados na água do pântano? E vacas do tamanho de insetos, com asas de borboleta? Então ainda não pode enfrentar o que está acontecendo com você. Talvez ainda não tenha percebido, ou ache que é apenas uma farpa no dedo do pé, mas a verdade é que você está, de fato, se transformando em vidro, lentamente.
E embora, nesse ritmo, talvez pudesse seguir para sempre, tornando a transformação derradeira tão vaga como a morte, nunca se sabe quando seu corpo e sua razão se cansarão da batalha, e você terá de sucumbir instantaneamente à mais fantástica das cristalizações. É hora de acreditar no impossível. E, antes de mais nada, acreditar em si. Porque, se não é mais capaz de surpreender-se e maravilhar-se com os mistérios dessa vida, talvez seu coração já tenha endurecido.”

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

*♥* 27 *♥*


Olha aí Bo, quanto tempo já faz que a gente levou aquela flechada certeira do cúpido hein? Esse dia a gente nunca esquece, aquele dia chuvoso, meio abafado, acinzentado, em que nossos olhos se encontraram pela primeira vez, e aí ela veio, a flecha afiada que rasgou tudo aqui dentro, e não tinha mais volta.
Depois o mundo mudou, as cores mudaram, as nossas vidas viraram de ponta cabeça, e vieram os morceguinhos e borboletas no estômago, os olhinhos brilhando, o coração fazendo ticaticabunch, as respirações prendidas, e tudo por mais brega que possa parecer se transformava em corações, inclusive mordidas em maça do amor, anjos e demônios ganharam histórias lindas, e o preto nunca ficou tão compatível com o rosa. As noites traziam mais saudades, e os dias não estavam completos quando você não estava. As alegrias ficaram mais intensas, e as dores mais fortes, porque a gente aprendeu a dividir tudo, então um acaba sentindo o que o outro sente e quando a gente percebeu “as nossas vidas” se transformou em “nossa vida”, as viagens pelo mundo começaram a tomar forma, porque enfim, eu tinha achado o meu parceiro de mochila, enfim um companheiro de aventuras, e eu queria e quero explorar cada cantinho do mundo com você, quero uma foto no topo de Machu Picchu, e uma no Pico do Everest, quero uma debaixo da Torre Eiffel, outra em frente ao Taj Mahal, uma nas Muralhas da China e outra nas Pirâmides do Egito, quero esquiar com você na neve dos países nórdicos e curtir as praias do Havaí, quero visitar todas as bibliotecas do mundo e os museus, quero tudo, mas quero tudo com você.
A vida nunca mais foi a mesma desde o dia em que você chegou e de repente tudo que veio antes pareceu sem importância, nenhum colo era mais aconchegante que o seu, e nenhum carinho era mais gostoso, nenhum beijo e nenhum abraço foi tão esperado como o seu. E aquela paranoia que tentam enfiar na nossa cabeça de que não se pode confiar em ninguém, com você virou Conto da Carochinha, ao seu lado eu fecho os olhos e salto de qualquer altura porque sei que você vai estar lá embaixo pra me segurar se eu não conseguir voar.
Depois que você chegou a vida tem gosto de pizza, jujuba e chocolate, de pastel de feira de domingo, de doce de leite, de lasanha de mãe, é aconchegante como lareira no inverno e faz o coração da gente bater rápido como festa de aniversário surpresa, é bom como feriado na quinta e na terça-feira, ronronar de gatinho no pé da gente, e ás vezes é tranquila como barulho de chuva no telhado a noite.
Realmente, a gente nunca esquece o dia que o cupido acerta uma flechada de primeira na gente, porque a partir daquele momento a nossa vida jamais será a mesma.
E mesmo que ás vezes eu canse do seu jeito metódico, da sua maneira de planejar tudo com cinquenta anos de antecedência e do seu jeito de arrumar demais as coisas enquanto eu sou uma grande bagunceira que adoro fazer as coisas de última hora, mesmo com todo esse antagonismo, eu ainda prefiro mil vezes ter você ao meu lado, o cara metódico que traz sempre chocolate quando eu tô de TPM, o cara fanático por arrumação que me ajuda colocar todos os meus trabalhos em dia e me ajuda arrumar a minha parte do guarda-roupa, o cara que planeja todas as nossas viagens nos maiores detalhes e sem o qual eu sempre ficaria perdida, eu prefiro tudo isso assim, porque mesmo que eu considere isso tudo um grande defeito, é bom ter alguém imperfeito do meu lado, é quase uma sorte imensa, porque perfeição causa tédio e com tédio a gente não consegue ser feliz de verdade.
Eu sei que a distância ainda insiste em continuar (agora em menor escala, ainda bem) entre a gente, mas eu posso dizer que ela acaba sendo uma coisa boa, porque ela “potencializa” as coisas, tá, potencializa a dor da saudade, os gastos, a carência, e não dá pra você simplesmente sair no meio da noite quando a gente briga e bater na porta da minha casa...aliás, não, pera, você já fez isso duas vezes né? Então nisso distância, você perdeu feio. Mas ela aumenta também os momentos únicos, os olhares, os abraços, e cada segundo que a gente passa junto é muito especial. E a gente frequenta tanto as rodoviárias que acaba fazendo amizade com os motoristas, o pessoal que vende as passagens, e eles até reservam as melhores poltronas pra gente, e no fim o amargo fica bem mais fraquinho que o doce, vale o dinheiro gasto em passagens, as contas de telefone, as lágrimas de saudade, vale tudo pra ganhar o abraço forte, o beijo bom pra caramba, o carinho, a massagem, o colinho, o pezinho com pezinho, vale a pena pra ganhar você pertinho.
Então, bigada por esses Dois anos e três meses de Bo, bigada por ser o meu ogrodoce, bigada por todos esses dias juntos e que venham muitos e muitos e muitos mais.

Te amo muito

Rawwwwwwwwwwwwwwrrr ♥


"Eu quero poder viver mais umas 5 vezes .
Então eu renasceria em 5 cidades diferentes ,
Eu me encheria com coisas diferentes e deliciosas 5 vezes cada,
Eu teria 5 empregos diferentes,
E então nessas 5 vezes,
Eu me apaixonaria pela mesma pessoa ."
(Orihime Inoue)

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Setembro *-*


“...Quero um pedaço do rosa do céu ao entardecer,
Sem tempo, sem espaço, sem pressa...”

19


“Acredito que aos 19 a pessoa tem o direito de ser arrogante; geralmente o tempo ainda não começou suas furtivas e infames subtrações. Ele nos leva os cabelos e o poder de explosão, mas no fundo leva muito mais.
Quando você tem 19, pode-se imaginar vagamente tendo 40 anos, mas 50? Não. 60? Nunca! Sessenta estava fora de cogitação. E aos 19 é assim que deve ser. Dezenove é a idade em que você diz: Cuidado mundo, estou fumando TNT e bebendo dinamite, por isso, se você sabe o que é bom pra você, saia do meu caminho...
Os 19 são uma idade egoísta, que restringe severamente as preocupações da pessoa. Eu tinha muita coisa na minha frente e era o que me importava. Tinha muita ambição e era o que me importava. Tinha uma maquina de escrever que carregava de uma porra de apartamento pra outra, sempre com alguma coisa pra fumar no bolso e um sorriso na cara. Os compromissos da meia-idade estavam longe, os ultrajes da idade avançada, além do horizonte, meu bolso estava vazio, mas a cabeça estava cheia de coisas que eu queria dizer e o coração cheio de histórias que queria contar. Porém, o mundo acaba sempre lhe enviando a bosta de um Patrulheiro para retardar o seu avanço e mostrar quem está no comando. Você que está lendo isso sem a menor dúvida já encontrou (ou vai encontrar o seu); eu encontrei o meu e tenho certeza que ele voltará. Ele tem o meu endereço. É um cara mesquinho, um Mau elemento, o inimigo jurado da piração, da putaria, do orgulho, da ambição, da música alta e de todas as coisas dos 19 anos.
Mas ainda acho que essa é uma idade boa, talvez a melhor idade. Você pode rolar no rock a noite toda, mas quando a música cessa e a cerveja chega ao fim, você consegue pensar. E sonhar sonhos grandes. O Patrulheiro mesquinho acaba mais cedo ou mais tarde podando você e, se você já começou pequeno, pois é, quando ele acaba, não sobra nada além da bainha do seu corpo. Arranje outro!, ele grita e sai marchando com o bloquinho de multa na mão. Por isso um pouco de arrogância (ou mesmo um monte) não é tão ruim, mesmo que sua mãe é claro, tenha dito outra coisa. A minha disse: O orgulho vai embora depois da queda Stephen, disse ela... e eu constatei que você acaba mesmo caindo. Ou é empurrado pra vala. Aos 19, podem mandar você parar no acostamento, sair da porra do carro, levar sua dolorida queixa (e sua bunda ainda mais dolorida) para o meio da estrada, mas não podem apreendê-lo quando você senta para pintar um quadro, escrever um poema ou contar uma história, pelo amor de Deus, e se por acaso você, que está lendo isto, e é ainda muito novo, não deixe os mais velhos e supostamente mais vividos lhe dizerem nada diferente. Certo, você nunca esteve em Paris. Não, você nunca correu com os touros em Pamplona. Claro, você é um moleque que três anos atrás ainda não tinha cabelo debaixo do braço... mas e daí? Se você não começa grande demais para sua calça, como vai caber dentro dela quando crescer? Deixe que ela rasgue, não importa o que os outros digam, esse é o meu ponto de vista.”

O Pistoleiro – A Torre Negra
Stephen King


Pr’aquela que incentivou as minhas aventuras na Terra Média, e com quem eu posso sempre conversar sobre a poesia do mundo.
Desejo que seu patrulheiro se perca no caminho, que seu coração tenha sempre histórias pra contar e que você seja sempre do tamanho dos seus maiores sonhos.
Congratulações Niënor Níniel 
Pode soprar a velinha agora *-*




quinta-feira, 22 de agosto de 2013


" (...) Sabe Wendy, quando o primeiro bebê riu pela primeira vez, o riso dele quebrou em milhares de pedaços e todos eles saíram pulando, e esse foi o começo das fadas. Por isso, devia existir uma fada para cada menino e para cada menina.
_ Devia existir? Mas não existe Peter?
_ Não. As crianças sabem de tanta coisa hoje em dia que logo param de acreditar em fadas. E toda vez que uma criança diz "Eu não acredito em fadas!" uma fada caí morta em algum lugar(...)"

J. M. Barrie – Peter Pan

quarta-feira, 21 de agosto de 2013


“O fim do mundo e atirar-se na esponjosa turfa e beber esquecimento, com o riso rouco dos gralhos ressoando na altura. Apressou o passo, correu, tropeçou, as ásperas raízes das urzes atiravam-na para o chão. Tinha quebrado o tornozelo. Não se podia levantar. Mas ali ficou feliz, deitada. O cheiro do mirto dos pântanos e da filipendula estava em suas narinas. A risada dos gralhos estavam em seus ouvidos. "Encontrei meu companheiro", murmurou. "É o campo. Sou uma noiva da natureza" susurrou, entregando-se, extasiada, ao frio abraço da erva, envolta em sua capa, na cova junto ao poço. "Aqui ficarei".”

Virginia Woolf

domingo, 18 de agosto de 2013

“Nós também já estivemos lá, na Terra do Nunca; ainda podemos ouvir o barulho das ondas, mas nunca mais vamos desembarcar.”


“A Terra do Nunca é sempre mais ou menos uma ilha, com pinceladas maravilhosas de cor aqui e ali, e recifes de coral e barcos velozes prontos pra zarpar, e esconderijos selvagens e secretos, e gnomos que quase sempre são alfaiates, e cavernas atravessadas por rios, e príncipes com seis irmãos mais velhos, e uma cabana caindo aos pedaços, e uma velhinha bem baixinha com nariz de gavião (...). É claro que as Terras do Nunca variam muito, mas em geral têm semelhanças entre si como os membros de uma família e, se elas ficassem paradas uma do lado da outra,  você ia poder dizer que têm o mesmo nariz e coisas assim. De todas as ilhas deliciosas que existem, a Terra do Nunca é a mais aconchegante e compacta; não é grande e espalhada sabe?  Com aquelas distancias chatas entre uma aventura e outra. É bem apertadinha. Quando você brinca nela durante o dia, usando as cadeiras e toalhas da mesa. Ela não é nem um pouco assustadora. Mas nos dois minutos antes de você dormir, ela fica quase, quase real. É por isso que a gente sempre deixa uma luzinha acesa no quarto durante a noite.”

Peter Pan - J. M. Barrie



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

*♥* 26 *♥*


Lembra daquele primeiro texto, daquele primeiro poema? Pois é Bo, o tempo passou, e a gente passou por tantas coisas também, mas uma coisa ficou, aquele sentimento bom que a gente sabe que nunca vai passar, aquela sensação de querer ficar pra sempre ao lado da pessoa e não querer perder mais nenhum minuto separado pela distância. Existe algo em você que sempre me motiva a querer cada vez mais, como um livro que a gente lê e relê sempre ,descobrindo cada uma coisa diferente  a cada vez que não tinha percebido antes, e assim como um livro favorito eu quero que você me acompanhe pelo resto da vida.
Com o tempo tudo foi se ajeitando e se completando, hoje eu estou em cada parte da sua vida e da sua casa. No cheiro de jasmim que fica nos lençóis, na pasta de dente da Barbie no banheiro, na toalha rosa pendurada no box, nas miniaturas das princesas em cima da escrivaninha, nas canecas coloridas da cozinha, nos fios de cabelo claro espalhados pelo piso branco, nas fotos do seu mural pregadas com declaração de amor e papéis de chocolate cor de rosa, nas músicas que você nunca sonhou ter em seu computador e que hoje já estão na playlist, estou no chinelo jogado pelo quarto, na marca do batom cor de rosa que eu deixo nos copos, nos planos de final de semana e você está em cada parte do meu coração e da minha cabeça, está naquele arrepio gostoso de barba roçando a nuca, no pezinho quentinho que esquenta o meu pezinho geladinho, nas ligações perdidas, recebidas, sms enviadas, no cheiro dos ursinhos de pelúcia, está nos sorrisos mais doces e verdadeiros que eu distribuo, no abraço que fica escondido o tempo todo só esperando você pra ele aparecer, e no beijo guardado com carinho só pra você.
Você é aquele par de olhos que me espiona por cima dos livros enquanto eu leio, que vem se aninhando no meu colo pedindo carinho infinito, você é aquele com quem eu divido minha panela de brigadeiro e minhas batatas fritas, que fala de qualquer assunto, ou fica em silêncio só me ouvindo respirar, que perde a noite de sono pra velar o meu.
E depois de tudo isso que a gente já passou, depois desses vinte e seis meses compartilhados de loucuras, brigas e paixões, no fim de um dia ruim ou de um dia bom eu só quero a sua companhia e a sua mão colada na minha enquanto a gente anda na rua, eu não quero mais hora da despedida e hora de ficar sozinha, eu quero horas de alegria compartilhada, horas de silêncio com colo, e então eu peço pra minha Fada Madrinha, pra que chegue logo o dia que ao invés da despedida, tenha mais abraços, que ao invés de passos separados, a gente continue a andar juntos, que nos finais de semana a gente converse a madrugada inteira sobre filmes, livros, seriados, trabalhos e projetos futuros, sobre a janta da semana e sobre os planos pro Lúcifer, pro apartamento novo, pros móveis que acabaram de chegar, sobre o mundo que não nos compreende e que nós não compreendemos, mas que pra gente tanto faz, porque a gente tá junto enfrentando ele, parceiros nessa longa jornada.
E foi com você, nesses 26 meses de convivência que eu aprendi a maior verdade de todas, que é com amor que se cura uma saudade, por mais dolorida que ela seja, e que o nosso amor, é capaz de tudo só pra no final a gente ser feliz pra sempre.



Bigada pelos meses maravilhosos comigo *-*
Bigada por ser o melhor Bo do mundo inteiro *-*
Bigada por ser o meu Ogrodoce *-*

Te amo muito
Rawwwwwwwwwwrrrrr


quinta-feira, 18 de julho de 2013

O Pistoleiro


“O Universo (disse ele) é o Grande Todo e oferece um paradoxo grande demais para ser apreendido pela mente finita. Assim como o cérebro vivo não pode conceber um cérebro não vivo _ embora possa achar que pode_ a mente finita não pode apreender o infinito.
O fato prosaico da existência do universo já desacredita, por si mesmo, o pragmático e romântico. Houve uma época, cem gerações antes de o mundo seguir adiante, em que a humanidade atingira pericia cientifica e técnica suficiente para tirar algumas lascas do grande pilar de pedra da realidade. Mesmo assim, a falsa luz da ciência (o conhecimento, se você preferir) só brilhou em alguns países desenvolvidos. Contudo, apesar de um tremendo incremento de novos conhecimentos, as novas percepções foram notavelmente reduzidas. Nossos muitas vezes tetravós venceram a doença que destrói, que chamavam de câncer, quase venceram o envelhecimento, andavam na Lua e foram feitos ou descobertos dezenas de engenhos incríveis. Mas a riqueza de informação produzia pouco ou nenhum discernimento. Não se escreveram grandes odes sobre as maravilhas da inseminação artificial, ou sobre os carros que andavam graças à força que tiravam do sol. Pouca gente, se é que alguém o fez, parece ter compreendido o mais autentico principio da realidade: novo conhecimento conduz sempre a mistérios ainda mais espantosos. Maior o conhecimento fisiológico do cérebro torna a existência da alma menos possível, ainda que mais provável pela própria natureza da pesquisa.
O maior mistério que o universo propõe não é a vida, mas o tamanho. O tamanho contém a vida e a Torre contém o tamanho. A criança, que em geral está familiarizada com o espanto, diz: papai, o que existe em cima do céu? O pai diz: a escuridão do espaço. A criança: o que existe depois do espaço? O pai: a galáxia. A criança: depois da galáxia? O pai: outra galáxia. A criança: depois das outras galáxias? O pai: ninguém sabe.
O Tamanho nos derrota. Para o peixe, o lago onde ele vive é o universo. O que pensa o peixe quando é puxado pela boca por um gancho prateado, nos limites da existência e penetra num novo universo onde o ar afoga e a luminosidade é uma loucura azulada? Onde enormes bípedes sem guelras o amontoam para morrer numa caixa sufocante, forrada de vegetação úmida?
Ou se pode pegar a ponta de um lápis e ampliá-la. Vamos chegar a um ponto onde uma atordoante compreensão cai sobre nós: a ponta do lápis não é sólida; é composta de átomos que giram e rodopiam como um milhão de diabólicos planetas. O que nos parece sólido é apenas uma rede de coisas soltas, mantidas juntas pela gravidade. Vistas na sua real dimensão, as distâncias entre esses átomos podem se tornar quilômetros, abismos, eternidades. Os próprios átomos são compostos de núcleos com prótons e elétrons girando em torno deles. Podemos descer ainda mais até as partículas subatômicas. E depois para o que? Para os táquions? Para nada? Claro que não. Tudo no universo rejeita o nada; sugerir um término é o único absurdo que existe.
Se você recuasse para o limite do universo, será que encontraria uma cerca de madeira e tabuletas dizendo SEM SAÍDA? Não. Talvez você encontrasse algo duro e arredondado, como o pintinho deve ver o ovo do seu interior. E se você atravessasse a casca beliscando (ou encontrasse uma porta), não poderia jorrar, nesses confins do espaço, uma incrível luz torrencial através da abertura? Você não poderia olhar por ali e descobrir que todo o nosso universo é apenas parte de um átomo numa camada de relva? Não poderia ser lavado a pensar que, ao queimar um graveto, você esta incinerando uma eternidade de eternidades? Que a existência não avança para um infinito, mas para uma infinidade deles?
Talvez você tenha visto o lugar que nosso universo ocupa no esquema das coisas _ não mais que um átomo numa camada de relva. Será possível que tudo que percebemos, do vírus microscópico à distante nebulosa Cabeça de Cavalo, esteja contido numa camada de relva que pode ter existido por uma única estação num outro fluxo de tempo?  E se a camada fosse cortada por uma foice? Quando ela começasse a morrer, a podridão não escorreria para nosso próprio universo e nossas próprias vidas, deixando tudo amarelado, escuro e ressecado? Talvez isso já tenha começado a acontecer. Dizemos que o mundo seguiu adiante; talvez estejamos realmente querendo dizer que ele começou a secar.
Pense em como essa ideia das coisas nos torna pequenos, pistoleiro! Se um Deus vela sobre tudo, acha realmente que Ele vai se preocupar em distribuir justiça a uma raça de mosquitos entre uma infinidade de raças de mosquitos? Será que Seu olho vê o pardal cair quando o pardal é menos que um pontinho de hidrogênio flutuando solto nas profundezas do espaço? E se Ele realmente vê...qual deve ser a natureza de um tal Deus? Onde Ele vive? Como é possível viver além do infinito?
Imagine a areia do deserto de Mahaine que você cruzou para me encontrar, e imagine um trilhão de universos _ não mundos, mas universos_ encerrados em cada grão daquele deserto, e dentro de cada universo uma infinidade de outros. Nós nos elevamos sobre esses universos de uma suposta posição privilegiada na relva; com um movimento de sua boa, você pode chutar um bilhão de mundos, fazê-los voar para a escuridão, numa reação em cadeia que jamais terá fim.
Suponha que todos os mundos, todos os universos se reúnam num único nexo, um mesmo portal, uma Torre. E que dentro dela haja uma escada, levando, talvez à própria Divindade. Você teria coragem de subir até lá, pistoleiro?

O Pistoleiro – A Torre Negra Vol I
Stephen King

sexta-feira, 12 de julho de 2013

*♥* 25 *♥*


Tenho um dragão que vive comigo.

Eles são solitários, os dragões. Quase tão solitário quanto eu, quando ele se vai.

Aprendi que um dragão sente certa dificuldade de se relacionar com outros seres. Seja uma pessoa igual a mim, seja unicórnio, salamandra, harpia, elfo, hamadríade, sereia ou ogro. Duvido que um dragão conviva melhor com esses seres mitológicos, mais semelhantes à natureza dele, do que com um ser humano. Não que sejam insociáveis. Pelo contrário, às vezes um dragão sabe ser gentil e submisso como uma gueixa, eles apenas não dividem seus hábitos.
Poucas pessoas são capazes de compreender um dragão. Eles quase nunca revelam o que sentem. Quem poderia compreender, por exemplo, que logo ao despertar (e isso pode acontecer em qualquer horário, às três ou às onze da noite, mas é mais previsível entre sete e nove da manhã, pois essa é a hora dos dragões) sempre batem a cauda três vezes, como se estivessem furiosos, soltando fogo pelas ventas e carbonizando qualquer coisa próxima num raio de mais de cinco metros? Acho que ele faz isso pra que no fim só restasse eu, ele e as cinzas. Cinzas são como sedas para um dragão, nunca para um humano, porque a nós lembra destruição e morte, não prazer. Eles trafegam impunes, deliciados, no limiar entre essa zona oculta e a mais mundana.
Percebo ás vezes que os dragões não querem ser aceitos. Eles fogem do paraíso, esse paraíso que nós, as pessoas, inventamos. Os dragões não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia.
Um dragão nunca acha que está errado. Tudo que faz, e que pode parecer perigoso, excêntrico ou no mínimo mal-educado para um humano igual a mim, é apenas parte dessa estranha natureza dos dragões.
Eles são seres invisíveis às vezes, você sabe. Sabe? Eu não sabia. Isso é tão lento, tão delicado de contar - você ainda tem paciência? Quando ele não está presente eu posso senti-lo, mesmo a quilômetros de distância, mesmo sem poder vê-lo. E se você disser que isso é impossível, ele rirá. Você o achará talvez até irônico. Ele olhará pra você e perguntará: “Então você só acredita naquilo que vê?” Se você disser que sim ele falará em unicórnios, salamandras, harpias, hamadríades, sereias e ogros, fadas, átomos, buracos negros, anãs brancas, quasars e protozoários. E dirá, com aquele ar levemente pedante: "Quem só acredita no visível tem um mundo muito pequeno. Os dragões não cabem nesses pequenos mundos de paredes invioláveis para o que não é visível".
Eu aprendi um jeito de perceber quando o dragão está ao meu lado, mesmo em épocas distantes. Os dragões param sempre do lado esquerdo das pessoas, para conversar direto com o coração. O ar ao meu lado fica leve, de uma coloração vagamente negra, sinal que ele esta feliz. Sorríamos suaves, meio tolos, descendo juntos pelo elevador numa tarde de junho - esse é o mês dos dragões - dentro daquele clima de eternidade fluida que apenas os dragões sabem transmitir.
Ele cheira a hortelã e alecrim, cheiro de manha no campo. Quando chega, o apartamento inteiro fica impregnado desse perfume.
Nos dias que antecedem a sua chegada, eu acordo no meio da noite, o coração disparado e sem saber por que, nas manhãs seguintes, compulsivamente eu começo a comprar flores, limpar a casa, ir ao supermercado para encher o apartamento de rosas e chocolates (os dragões adoram comer chocolate, mesmo passando mal depois).  Tudo fica mais feliz, e meu coração dispara quando aquele cheiro de alecrim e hortelã começa a ficar mais forte, escorregando que nem brisa por baixo da porta e se instalando devagarzinho no corredor de entrada, no sofá da sala, no banheiro, na minha cama.
Por situações como essa eu o amo, muito, e sempre me sinto um pouco incompleta quando ele vai embora e é sempre um alivio quando ele retorna pra perto.
Quando ele vai, dormindo ou acordada, eu recebo sua partida como um súbito soco no peito, olho para cima, para os lados, à procura de Deus ou qualquer coisa assim - hamadríades, arcanjos, nuvens radioativas, demônios, nunca os achei nada, nunca vi nada além das paredes de repente tão vazias sem ele.
Só quem já teve um dragão em casa pode saber como essa casa parece deserta depois que ele parte. Dunas, geleiras, estepes, sem mais reflexos negros pelos cantos, nem perfume de ervas pelo ar, a vontade de ser feliz dentro da gente fica apertadinha misturada com sintoma de saudades.
Quando volto a pensar nele, nestas noites em que dei para me debruçar à janela procurando luzes móveis pelo céu, gosto de imaginá-lo voando com suas grandes asas negras, solto no espaço, em direção a todos os lugares que é lugar nenhum.
E então quando a saudade aperta mais saio à procura de ilusões como o cheiro das ervas ou reflexos negros de escamas pelo apartamento e, ao encontrá-los, mesmo apenas na mente, torno-me então outra vez capaz de afirmar, como num vício inofensivo: tenho um dragão que mora comigo.

E hoje, vinte e cinco meses depois que esse dragão apareceu na minha vida, eu ainda sinto a falta dele, ainda sinto a distância que nos separa fisicamente, mas também sinto a sintonia que sempre nos aproxima, meu coração ainda acelera quando o cheiro de alecrim e hortelã se mistura com o meu perfume de jasmim, e eu sinto dentro do meu coração, como é incrível viver com um dragão. Mesmo com todos os problemas que ele causa e seu gênio difícil, ainda é infinito o prazer que sinto ao ser aconchegada dentro dos seus braços.

Feliz 25 meses Bo

Te amo muito muito muito ♥

Serendipity 


* Texto baseado na obra de Caio Fernando de Abreu: Os dragões não conhecem o paraíso.


sábado, 6 de julho de 2013

Carta de Demissão


Venho por meio desta, apresentar meu pedido de demissão da categoria dos adultos. Resolvi que quero voltar a ter as responsabilidades e as ideias de uma criança de sete anos no máximo.
Quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoas são honestas e boas.
Quero acreditar que tudo é possível.
Quero que as complexidades da vida passem despercebidas por mim e quero ficar encantada com as pequenas maravilhas deste mundo.
Quero de volta uma vida simples e sem complicações.
Cansei dos dias cheios de computadores que falham, montanhas de papeladas, noticias deprimentes, contas a pagar, fofocas, doenças e necessidade de atribuir um valor monetário a tudo que existe. Não quero mais ter que inventar jeito de fazer o dinheiro chegar até o próximo pagamento.
Não quero mais ser obrigada a dizer adeus a pessoas queridas, e com elas uma parte da minha vida.
Quero ter a certeza de que Papai do Céu está realmente no céu, e de que por isso, tudo está direitinho neste mundo.
Quero viajar ao redor do mundo no barquinho de papel que vou navegar numa poça deixada pela chuva.
Quero jogar pedrinhas na água e ter tempo para olhar as ondas que elas formam.
Quero achar que as moedas de chocolate são melhores do que as de verdade, porque podemos comê-las e ficar com a cara toda lambuzada.
Quero ficar feliz quando sair à primeira flor na arvore da minha rua dizendo que chegou a primavera e não precisamos ficar preocupados com os casacos pesados que atrapalham as brincadeiras.
Quero passar as tardes de verão a sombra de uma árvore, construindo castelos no ar e dividindo-os com meus amigos.
Quero voltar a achar que chicletes e picolés são as melhores coisas da vida.
Quero que as maiores competições que eu tenha sejam entrar num jogo de queimada e elefante-colorido.
Quero voltar ao tempo em que tudo que eu sabia era o nome das cores, tabuada, cantigas de roda, a "Batatinha quando nasce..." e a "Oração do Anjinho da Guarda" e que isso não incomodava nadinha, porque eu não tinha a menor ideia de quantas coisas eu ainda não sabia.
Quero voltar ao tempo em que se é feliz, simplesmente porque se vive na bendita ignorância da existência de coisas que podem nos preocupar ou aborrecer.
Quero acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, dos agrados, das palavras gentis, da verdade da justiça, da paz, dos sonhos, da imaginação, dos castelos no ar e na areia e quero estar convencida de que tudo isso vale muito mais do que o dinheiro!
A partir de hoje, eu me demito.



Desconheço a autoria

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Vai, se joga!


O que você está esperando?
Ligue, diga que o ama e que não sabe mais viver sem a sua presença.
Não esqueça de lembrá-lo que você emagreceu, então não vai mais precisar ficar reclamando das gordurinhas pra ele.
Faça ele perceber que ninguém saberá amá-lo como merece, somente você.
Peça, implore, para que ele volte.
Quando negar o seu pedido, chore.
Vá até o armário e devore mais três caixas de chocolate.
Beba mais vinho.
Fique lá, jogada no chão,
sem banho e sem esperanças.

Peça demissão.
Afinal, você não suporta mais passar perto do bar que se conheceram e lembrar de tudo o que tiveram.
Lote o e-mail e celular dele de mensagens.
Ligue, e chore, para os pais dele.
Quando ele resolver te ligar,
não espere que ele diga uma única palavra.
Atropele a conversa dizendo o quanto se sente feliz pela ligação
e pergunte quando vão se encontrar.
Se ele aceitar, tome um banho,
compre lingerie nova,
se depile,
fique bem cheirosa e minta o quanto puder para si que essa é a chance para vocês reatarem.

Ah, como a vida é justa!
Você fica feliz e sorridente por...
Dois, três dias??
Em seguida voltará à monotonia de um relacionamento fadado ao fracasso.
Você se sentirá a maior submissa.
Aquela que aceita tudo o que ele diz somente para tê-lo por perto.

Com o tempo,
os encontros vão se tornar quinzenais.
Ele, terá outras neste período.
Você?
No fundo, no fundo vai saber de tudo,
mas vai perdoar porque é fraca
e acredita que nenhum outro homem vai te amar.

Por isso, se joga!
Mas faz isso rápido,
antes que alguém venha te segurar do alto desse abismo...



A dor doía menos assim,
embora não fosse exatamente uma dor.
Mais um peso, um calafrio.
Uma memória, uma vergonha,
uma culpa, um arrependimento em que não se pode dar jeito.


[1980 - Os Dragões não conhecem o Paraiso]