sábado, 6 de julho de 2013

Carta de Demissão


Venho por meio desta, apresentar meu pedido de demissão da categoria dos adultos. Resolvi que quero voltar a ter as responsabilidades e as ideias de uma criança de sete anos no máximo.
Quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoas são honestas e boas.
Quero acreditar que tudo é possível.
Quero que as complexidades da vida passem despercebidas por mim e quero ficar encantada com as pequenas maravilhas deste mundo.
Quero de volta uma vida simples e sem complicações.
Cansei dos dias cheios de computadores que falham, montanhas de papeladas, noticias deprimentes, contas a pagar, fofocas, doenças e necessidade de atribuir um valor monetário a tudo que existe. Não quero mais ter que inventar jeito de fazer o dinheiro chegar até o próximo pagamento.
Não quero mais ser obrigada a dizer adeus a pessoas queridas, e com elas uma parte da minha vida.
Quero ter a certeza de que Papai do Céu está realmente no céu, e de que por isso, tudo está direitinho neste mundo.
Quero viajar ao redor do mundo no barquinho de papel que vou navegar numa poça deixada pela chuva.
Quero jogar pedrinhas na água e ter tempo para olhar as ondas que elas formam.
Quero achar que as moedas de chocolate são melhores do que as de verdade, porque podemos comê-las e ficar com a cara toda lambuzada.
Quero ficar feliz quando sair à primeira flor na arvore da minha rua dizendo que chegou a primavera e não precisamos ficar preocupados com os casacos pesados que atrapalham as brincadeiras.
Quero passar as tardes de verão a sombra de uma árvore, construindo castelos no ar e dividindo-os com meus amigos.
Quero voltar a achar que chicletes e picolés são as melhores coisas da vida.
Quero que as maiores competições que eu tenha sejam entrar num jogo de queimada e elefante-colorido.
Quero voltar ao tempo em que tudo que eu sabia era o nome das cores, tabuada, cantigas de roda, a "Batatinha quando nasce..." e a "Oração do Anjinho da Guarda" e que isso não incomodava nadinha, porque eu não tinha a menor ideia de quantas coisas eu ainda não sabia.
Quero voltar ao tempo em que se é feliz, simplesmente porque se vive na bendita ignorância da existência de coisas que podem nos preocupar ou aborrecer.
Quero acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, dos agrados, das palavras gentis, da verdade da justiça, da paz, dos sonhos, da imaginação, dos castelos no ar e na areia e quero estar convencida de que tudo isso vale muito mais do que o dinheiro!
A partir de hoje, eu me demito.



Desconheço a autoria

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