E eu fico aqui olhando pro nada...
O solo de guitarra continua tocando naquela vitrola e meus pensamentos seguem as notas musicais perdidas no ar.
São nestas velhas noites de outono que me encontro comigo mesma.
O gato vem se aninhando nos meus pés, que assim como a vitrola estão velhos e cansados.
Olho em cima da lareira e vejo minhas recordações, minhas doces recordações. Os sorrisos luminosos nos rostos jovens, o amor que durou por todas as estações de minha vida. Vimos juntos entrar outonos e mais outonos, abraçados, mãos frias segurando uma na outra, caminhando pela névoa nas madrugadas e olhando o céu.
Me lembro como se fosse ontem o gosto da sua boca.
Olho as crianças que vieram e as crianças dessas crianças...um ciclo do estações passando em minha cabeça nesse minuto.
Fechos meus olhos...15...20...30...40...50...100 e aqui estou eu...
Esperando a última estação nessa sala fria.
Existem pessoas que nasceram para fazer grandes coisas, algumas descobriram a cura de doenças, outras lutaram bravamente nas guerras, e aquele homem pisando na lua pela primeira vez...que ser humano fabuloso. E eu, bom, eu...penso acariciando o pelo da minha gata...eu amei! Eu não pisei na lua, mas construí com essas velhas e cansadas mãos todo aquele jardim de rosa lá fora...eu não descobri a cura de doenças que assolaram a humanidade, mas descobri uma simpatia caseira muito boa pra curar a alergia da minha filha, eu não lutei na guerra, mas me vesti como um guerreiro medieval pra espantar o valentão da escola do meu filho. Fui tantas personagens, fui tudo que eu sempre quis ser. Amada...
Fiz coisas simples assim, não sou ninguém especial, mas posso morrer feliz.
Ouço o barulho da agua fervendo, meu chá está quase pronto.
Abro a janela pro frio entrar, olho pro céu e sorrio.
Logo, logo estarei indo pra casa...
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