“Hum... tem gosto de infância!”
Fechei os olhos saboreando aquela bala de morango, ela me remeteu a muitos anos atrás, pensei naquela menininha de tranças, saindo correndo da casa da avó, com algumas moedinhas que acabara de ganhar, sorrindo jogava tudo no balcão da vendinha da esquina: “Me vê aquela balhinha quadrada de morango!”
Aquele gosto...
Isso acontece também com o cheiro do giz de cera, cheiro de jardim de infância, de pintura toda borrada tentando cuidadosamente não sair das linhas, coisa que eu nunca consegui. Acho que nunca tive talento pra pintura...
As coisas passaram tão rapidamente.
O gosto da bala acabou, o cheiro de giz de cera se espalhou com o vento, estava novamente na minha sala de trabalho, o computador com planilhas abertas em frente a mim, e a minha mesa uma bagunça (precisava organizar aquilo com urgência.)
O tempo passa muito rápido pra nós, seres humanos, damos voltas e voltas em torno do sol, e muitas vezes não saímos do lugar, aquele eterno casulo que nos aprisiona na mesmice do cotidiano. Falamos da saudade do namorado que mora longe, dos planos pra entrar na academia amanha, nas horas de estudo que serão gastas, nas viagens, no futuro...pensamos tanto no futuro que muitas vezes esquecemos do presente, esse que estamos agora, e que esta todo embrulhadinho esperando pra ser aberto e modificado se preciso.
Vejo o presente como aquele brinquedo de Lego, onde você construía o que queria, bastava ir juntando as pecinhas uma nas outras, dali saiam castelos, pontes, pessoas...o que nossa imaginação permitisse.
Passamos por medos de infância, daquele bicho papão escondido debaixo da nossa cama, pro medo do assaltante que nos espera sorrateiramente na esquina. Vivemos aprisionados em casulos de obrigações, casulos de falta de tempo, casulos de responsabilidades insanas, casulos de “nãopodefazerisso” que raramente damos espaço pras nossas asas crescerem.
As vezes fico me perguntando onde será que perdemos aquele “Teen Spirit”, será essa a grande charada do universo? Nascemos, crescemos, estudamos, trabalhamos, ganhamos dinheiro, casamos, procriamos, gastamos dinheiro, morremos...será isso enfim o cheque mate? Nos condicionarmos como ratos em laboratórios programados pra no fim seguirmos o mesmo trajeto de saída do labirinto?
E se eu escolhesse diferente? E se eu quisesse fazer como Christopher McCandless? Meus pais provavelmente me internariam no hospício, ou eu seria dada como uma rebelde sem causa que teve tudo nas mãos e não soube dar valor. Mas que valor? Valor material?
QUERO MINHAS ASAS!
Quero sair desse casulo de obrigações, de faz de conta que me impõem a sociedade, quero voar, quero passar pelas pessoas nas ruas escuras em noites de neblina e sorrir, pois somos cúmplices de um espetáculo da natureza, não quero ficar com medo pensando que pode ser um assaltante. Quero cumprimentar com abraços meus amigos e quero beijar suas faces dizendo: Hey eu te amo! Quero que todos ouçam isso e não digam que eu vulgarizo o verbo amar, porque o amor não é vulgar, ele foi feito pra estar em nossas bocas no cotidiano, amar mais, amar!
Se admitirmos que nossas vidas é somente regida pela razão, então estamos destruindo toda e qualquer possibilidade de vida!!! Estamos destruindo as emoções.
A passos lentos sinto algo se mexendo aqui dentro de mim. Serão elas aparecendo? Minhas asas? Não sei, mas quando paro por alguns segundos pra analisar, eu vejo um pontinho de luz no meio da escuridão, abriu-se um buraquinho no meu casulo, acho que essa é a hora!
Sorrio, enfim, esta chegando a hora de fazer a diferença!
“Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses”.
* * Rubem Alves* *
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