Andando em passos tranquilos e calorosos pude perceber a sua ausência.
Não imaginara que de mim ela pudesse se afastar, principalmente, num dia de sol,
em que todas as coisas nomináveis se duplicam num efeito visual natural que só ela pode conceder tal beleza.
Mas de mim ela se afastara, poupara-me da tal beleza.
Então lancei este pensamento como prece:
- De ti não havia imaginado, Sombra,
não iamginara ser possível desprender. Pra onde foste?…
Segui na tranquila reflexão intraquila daquele fato novo,
daquele desaparecimento.
De súbito pude vê-la voltar.
Aparentemente feliz, pois a vi brincar com meu corpo,
crescendo ao passar por uma pedra, esticando quando passamos por uma árvore,
longe, próxima…
Não contive e nem hesitei a curiosidade,
prontamente exclamei alucinadamente:
-Pra onde foste, sombra? Porque te afastaste de mim?
Ela aquietou-se e me acompanhou sem nada dizer.
Absorvi um sofrimento como uma espécie de sacríficio.
Seguimos sem nada mais dizer…
Avistei um banco abaixo de uma Carvalheira,
o vento vinha em uivos arrastando folhas espalhadas ao chão. Sentamos.
Ela vestiu-se de silêncio…
… O vento movia meus cabelos loiros e ela imóvel permanecera ao meu lado….
Seu silêncio me ensurdecia…
Num leve pestanejar pude ouvir suavemente o rasgar de uma túnica em cetim,
senti cair aos meus pés, tinha cor de luz,
a suavidade de penas angelicais, aqueceu-me nostalgicamente naquele instante frio. Tocou-me friamente naquela ventania
e pude sentir como que um pincel em tinta gelada preta dissolvendo uma paisagem fria e esboçada do seus passos afastados de mim.
Mostrara-me em prece o que fora pedir aos deuses em favor de minha paz,
clamar que todos os meus horrores vividos pudecem ser apagados ou esquecidos.
Ela sentia sede de meu sorriso,
que com o passar do tempo havia se tornado raridade e/ou pura caridade,
mas que pra mim, nós, ele se recolhia.
Inquietou-se com o sereno de minha face,
das marcas de minhas cicatrizes, do luto de minhas vestes,
do desassossego de meus sonhos e pensamentos.
Partira pra saciar-se no Rio dos Infernos,
bebera das águas do esquecimento,
clamando que fossem retiradas de nós àquelas dolorosas lembranças…
Abraçou-me como irmã e beijou-me a face numa brisa suave,
senti amor.
Havia mais que tranquilidade naquele exato momento…
havia Amor em mim…
Amor em minhas marcas…
…Amor em meus novos passos…
Ergue-se uma Mulher despida das asas quebradas
de um anjo que muito lutou nesta Vida.
Guerreira fui.
Gurreira sou em mim.
Não sou a sombra de uma mulher.
Sou uma Mulher sem sombra…
sem desassossego.
Sou Feliz em minha serenidade.
Sou Feliz em mim…
…Em Paz
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