Esta é a história de uma certa Anna...uma história de incompreensão, polemicas, abismos morais, profundezas de emoção, de atitudes de coragem, mas sobretudo de renúncia.
“Enquanto a mulher do fim do século se escondia na cozinha, Anna de Assis foi para a sala de visitas palestrar com um Machado de Assis, um Barão do Rio Branco. Mulher audaz, independente, morando numa cidadezinha pequena e provinciana como São José do Rio Pardo, teria seus momentos ímpares confundidos pela mente pequena e bitolada daqueles que não enxergavam o horizonte. Ali naquela cidadezinha, Anna de Assis deixou a imagem de uma mulher fútil e namoradeira. Conclusão chegada porque se postava à janela alegre e moderna não se escondia dos homens.”
Anna casada, com trinta anos e com filhos ousou amar um homem treze anos mais jovem e por esse amor enfrentou hostilidades. Isso no começo do séc XX, num subúrbio do Rio de Janeiro, então capital federal, La enfrentou a lei dos homens, a ordem da sociedade, os mandamentos sociais e até as armas e os barões assinalados.
Não pode se dizer que conseguir ficar ao lado de seu amado Dilermando fez Anna vencer, pode-se dizer que à custa de extremo sofrimento e tristezas imensas ela lutou fielmente por seu amor. Anna foi valente, viveu sem dar conta de seus atos a quem quer que fosse
Não nos cabe julgar se Anna errou, mas cabe aplaudir a coragem dessa mulher, que amou, defendeu o amor e viveu por ele e é isto que trata esta história.
Nasceu Anna Ribeiro, e foi depois do casamento consagrada Anna Cunha por ter desposado nada menos que Euclides da Cunha. Esse casamento terminaria em morte em 15 de agosto de 1909.
Euclides e Anna se conheceram na casa do pai dela em que este lhe deixou a seguinte mensagem: “Entrei aqui com a imagem da República e parto com a sua imagem.” Euclides era um homem inquieto, voltado para si mesmo, estudioso, não se mostrava satisfeito com absolutamente nada, talvez essa insatisfação afetasse também o casamento, deixando a esposa cansada de incertezas, de tantas ausências prolongadas.
Em dezembro de 1904 Euclides seguiu rumo a Amazonas, fazendo parte da Comissão do Ministério das Relações Exteriores que demarcaria no Acre os limites entre Brasil e Peru, o prazo previsto de ausência seria de um ano.
Assim que Euclides embarcou, Anna e o caçula Manoel mudaram-se para a Pensão de Monat. Os filhos Sólon e Euclides Filho estudavam em colégios internos, e foi aí que em 1905 Anna conheceu um belo rapaz de 17 anos, olhos claros, alto, loiro. Apaixonaram-se. O jovem era apenas quatro anos mais velho que seu amigo Sólon, primogênito do casal. Ainda naquele ano ela, os filhos, mais o jovem amante mudaram-se para uma casa.
No dia primeiro de janeiro de 1906, Euclides desembarcou no Rio ansioso por rever suas “quatro saudades” Anna estava grávida. Dilermando afastou-se pedindo e obtendo transferência urgente para a Escola Militar do Rio Grande do Sul. Não passava pela cabeça de Euclides qualquer duvida sobre a fidelidade da esposa.
As saudades dos amantes eram amenizadas com muitas cartas de saudades. Em julho de 1906 nasceu Mauro, registrado como filho de Euclides, porém só viveu uma semana.
Dilermando voltou de férias ao Rio em 1907 e Anna ficou novamente grávida. Em novembro nasceu Luiz, Euclides registrou também como seu, referindo-se a ele como “uma espiga de milho em meio de um cafezal”, pelos cabelos loiros e olhos claros.
As desavenças com o tempo de Euclides e Anna começaram a tornar insustentável o relacionamento, então em 14 de agosto de 1909 Anna abandonou o lar, abrigando-se na casa de Dilermando.
Na chuvosa manha do dia seguinte Euclides batia palmas no portão da casa do mesmo, sendo recebido pelo irmão de Dilermando, Anna e os filhos Luiz e Sólon esconderam-se na despensa. Com uma arma na mão Euclides entrou, seu rival permaneceu trancado no quarto, para abrir passagem em quem se postava em sua frente Euclides atirou duas vezes a segunda bala se alojou na nuca do irmão de Dilermando.
Ao ouvir os disparos Dilermando apareceu também de arma na mão e foi alvejado na virilha e no peito.
Já fora da casa Euclides foi atingido no peito e nas costas, caiu sendo levado pelo filho Sólon que estava naquela casa tentando convencer a mãe a voltar ao lar desfeito, o pai moribundo disse: “Perdôo-te”, dirigindo ao rival: “odeio-te” e para sua mulher: “Honra...perdôo-te”.
Euclides da Cunha era um homem conhecido e amado no Brasil, por isso muito dos seus admiradores sentiam-se traído quando em 5 de maio de 1911 Dilermando de Assis foi absolvido.
Dilermando veio a ser general do Exército brasileiro. Casou-se com Anna sete dias após a absolvição. Anna da Cunha passou a ser Anna de Assis, porem Dilermando a abandonou em 1926 com cinco filhos para ficar com uma mulher mais jovem, ele tinha 36 anos e ela estava com 50.
Mas a tragédia de Anna não terminou com uma única morte, em 1914 foi a vez do filho Sólon delegado no Acre morrer assassinado numa tocaia na floresta. Em julho de 1916 foi a vez de Euclides da Cunha Filho, aspirante a oficial da marinha, encontrou-se por acaso com o assassino de seu pai puxou a arma e atirou apenas ferindo Dilermando, em seguida caiu morto com três tiros que recebeu. O destino fez com que o namorado de Anna de Assis também matasse o filho de Euclides da cunha.
Ainda assim Anna escolheu continuar Anna de Assis.
E assim foi a história de uma certa Anna, que sofreu, chorou, lutou, viveu e amou....