Chovia muito onde ela estava. Os pés descalços brincavam
com as gotas que caiam duras e frias na terra, sentada observava o céu escuro.
Não viu quando ele se sentou ao seu lado.
Só percebeu sua presença quando tirando um cigarro da
camisa ele disse com voz de tempestade:
_Não fique triste menina. A chuva não vai durar para
sempre, acalme seu coração...logo logo dias calmos virão.
Ela não retirou os olhos das gotas que molhavam seus pés.
Depois de um tempo em silêncio ela disse:
_ Não gosto de dias assim. As gotas doem como navalhas
entrando em minha pele e a tempestade me impede de voar.
_ Não seja boba_ disse ele brincando com o cigarro entre os
dedos_ Você já enfrentou tempestades maiores e eu acredito que suas asas são
mais resistentes do que pensa...
_ São tempos difíceis...
Ele a olhou por um tempo em silêncio.
_ Sabe o que dizem por aí_ disse ele levantando_ Que o céu
acima da tempestade é tão azul quanto em nossos sonhos mais doces, e que as
nuvens são brancas como carneirinhos. Dizem que acima de toda tempestade
existe um lugar calmo e seguro pra repousar.
Pela primeira vez ela levantou os olhos e o encarou. O
homem vestia preto e tinha o rosto sereno.
_ Você já foi lá?
_ Eu não_ disse ele sorrindo_ Não tenho asas como você. Mas
se tivesse não ficaria sentada esperando a tempestade passar e o coração deixar
de sangrar. É como dizem: “A neve e a tempestade matam as flores, mas nada
podem contra as sementes.”
Ele fechou o sobretudo preto e se afastou.
Ela voltou a olhar para as gotas em seus pés. E tomando uma
decisão abriu as lindas asas e subiu enfrentando a tempestade que ficara mais dura.
No começo achou que não iria aguentar a dor que dilacerava
seu coração, lágrimas caiam de seus olhos, e estava cansada...muito cansada. Mas
não iria desistir, tinha como objetivo chegar acima da tempestade, sabia ser
capaz.
Voou mais rápido e com mais força até que alcançou a nuvem
mais cinzenta de todas e a dor quase a deixou sem sentido, mas ela superou e
passou por ela.
O que viu depois nunca imaginou que existiria, a tempestade
ficara num lugar do passado, não havia mais dor, havia finalmente encontrado um
lugar de paz.
Lá embaixo o homem sorria.
“Hoje, contemplando o fim da tempestade,
Já não recolho os destroços como antes.
Levanto minha cabeça e sigo em frente...
Se tenho que tirar uma lição, fica esta:
O vento só leva, quem se deixa levar...”
Já não recolho os destroços como antes.
Levanto minha cabeça e sigo em frente...
Se tenho que tirar uma lição, fica esta:
O vento só leva, quem se deixa levar...”
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