segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Décimo sétimo mês


O quarto estava silencioso quando eu entrei, por todos os lados recordações de um tempo diferente daquele.
Minha mão escondia um punhal. Parecia ter sido feito para aquele momento.
Em meio à parede rosa descascada, me perdi observando cada detalhe daquele lugar que um dia havia sido tão maravilhoso, hoje nada mais restava a não ser pedaços de vidros espalhados pelo chão, molduras empoeiradas e sorrisos apagados pelo tempo. O ar frio entrava pela janela aberta onde uma cortina rasgada bailava.
Em um canto mais afastado uma vitrola cantava uma canção antiga de amor.
Olhei para ele, em sua inocência alheio a todo aquele caos. Contrariando todas as leis da natureza, ele sobrevivia ali.
Me aproximei e vi que seus olhos brilharam mais forte. Ele sabia que eu o enxergava.
Eu o peguei no colo com delicadeza, era lindo, simplesmente perfeito em sua doce inocência, era apenas um bebe...
Trazia em si uma imagem conflitante ao lugar em que estava, era limpo e claro, num quarto escuro e empoeirado.
O apertei forte contra o peito e senti a dor que ele me proporcionava, uma dor nunca antes vivida ou sentida.
Em meio a tudo aquilo, comecei a cantar canções de ninar o embalando, até que seus olhos pesados fechassem completamente.
O coloquei de volta ao berço.
Era tão sereno e lindo.
Olhei para o punhal em minha mão. Era preciso fazer aquilo. Não havia escolhas.
Porém ao me aproximar mais, sua respiração tranquila me fez parar um minuto para refletir. Ele merecia mais uma chance, mais uma chance de sobreviver naquele caos, somente uma. Eu não seria capaz de mata-lo...não agora, não neste momento.
Me debrucei sobre o berço e beijei sua linda face.
Ali ele dormiria até quando fosse necessário, quando o inverno da alma passasse quem sabe seria sua vez de regressar.
Coloquei o punhal em cima da velha cadeira e virei as costas.
Quando alcancei a porta dei uma última olhada e peguei a chave que a muito tempo estava guardada dentro de uma gaveta.
Me despedi de tudo aquilo.
Saí trancando-o no meu coração para sempre...

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