sexta-feira, 30 de novembro de 2012


“…Let us die young or let us live forever
We don't have the power but we never say never
Sitting in a sandpit, life is a short trip
The music's for the sad men...

Some are like water, some are like the heat
Some are a melody and some are the beat
Sooner or later they all will be gone
Why don't they stay Young...”

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

"Acho que prefiro me lembrar de uma vida desperdiçada com coisas frágeis a uma vida gasta evitando a dívida moral."


“Enquanto escrevo isso, me ocorre que a peculiaridade da maioria das coisas que consideramos frágeis é o modo como elas são, na verdade, fortes. Havia truques que fazíamos com ovos, quando crianças, para demonstrar que eles são, apesar de não nos darmos conta disso, pequenos salões de mármore capazes de suportar grandes pressões, e muitos dizem que o bater de asas de uma borboleta no lugar certo pode criar um furacão do outro lado do oceano. Corações podem ser partidos, mas o coração é o mais forte dos músculos, capaz de pulsar durante toda a vida, setenta vezes por minuto, não falhando quase nunca. Até os sonhos, que são as coisas mais intangíveis e delicadas podem se mostrar incrivelmente difíceis de matar.
Histórias, assim como pessoas, borboletas, ovos de aves canoras, corações humanos e sonhos, também são coisas frágeis, feitas de nada mais forte ou duradouro do que 26 letras e um punhado de sinais de pontuação. Ou então são palavras no ar, compostas de sonhos e ideias _ abstratas, invisíveis, sumindo no momento em que são pronunciadas_, e o que poderia ser mais frágil que isso? Mas algumas histórias, pequenas, simples, sobre gente embarcando em aventuras ou realizando maravilhas, contos de milagres e monstros, perduram mais do que todas as pessoas que as contaram, e algumas perduram mais do que a própria terra em que foram criadas.”



Neil Gaiman
Primeiro dia da Primavera de 2006.




terça-feira, 20 de novembro de 2012



“...Existe algum titulo para tudo?
As palavras não acolhem tudo o que se quer dizer.
São demasiado pequenas, mas também serão,
a par do que sentimos,
o melhor meio para nos expressarmos..."

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Décimo sétimo mês


O quarto estava silencioso quando eu entrei, por todos os lados recordações de um tempo diferente daquele.
Minha mão escondia um punhal. Parecia ter sido feito para aquele momento.
Em meio à parede rosa descascada, me perdi observando cada detalhe daquele lugar que um dia havia sido tão maravilhoso, hoje nada mais restava a não ser pedaços de vidros espalhados pelo chão, molduras empoeiradas e sorrisos apagados pelo tempo. O ar frio entrava pela janela aberta onde uma cortina rasgada bailava.
Em um canto mais afastado uma vitrola cantava uma canção antiga de amor.
Olhei para ele, em sua inocência alheio a todo aquele caos. Contrariando todas as leis da natureza, ele sobrevivia ali.
Me aproximei e vi que seus olhos brilharam mais forte. Ele sabia que eu o enxergava.
Eu o peguei no colo com delicadeza, era lindo, simplesmente perfeito em sua doce inocência, era apenas um bebe...
Trazia em si uma imagem conflitante ao lugar em que estava, era limpo e claro, num quarto escuro e empoeirado.
O apertei forte contra o peito e senti a dor que ele me proporcionava, uma dor nunca antes vivida ou sentida.
Em meio a tudo aquilo, comecei a cantar canções de ninar o embalando, até que seus olhos pesados fechassem completamente.
O coloquei de volta ao berço.
Era tão sereno e lindo.
Olhei para o punhal em minha mão. Era preciso fazer aquilo. Não havia escolhas.
Porém ao me aproximar mais, sua respiração tranquila me fez parar um minuto para refletir. Ele merecia mais uma chance, mais uma chance de sobreviver naquele caos, somente uma. Eu não seria capaz de mata-lo...não agora, não neste momento.
Me debrucei sobre o berço e beijei sua linda face.
Ali ele dormiria até quando fosse necessário, quando o inverno da alma passasse quem sabe seria sua vez de regressar.
Coloquei o punhal em cima da velha cadeira e virei as costas.
Quando alcancei a porta dei uma última olhada e peguei a chave que a muito tempo estava guardada dentro de uma gaveta.
Me despedi de tudo aquilo.
Saí trancando-o no meu coração para sempre...

terça-feira, 6 de novembro de 2012

November Rain

Chovia muito onde ela estava. Os pés descalços brincavam com as gotas que caiam duras e frias na terra, sentada observava o céu escuro.
Não viu quando ele se sentou ao seu lado.
Só percebeu sua presença quando tirando um cigarro da camisa ele disse com voz de tempestade:
_Não fique triste menina. A chuva não vai durar para sempre, acalme seu coração...logo logo dias calmos virão.
Ela não retirou os olhos das gotas que molhavam seus pés.
Depois de um tempo em silêncio ela disse:
_ Não gosto de dias assim. As gotas doem como navalhas entrando em minha pele e a tempestade me impede de voar.
_ Não seja boba_ disse ele brincando com o cigarro entre os dedos_ Você já enfrentou tempestades maiores e eu acredito que suas asas são mais resistentes do que pensa...
_ São tempos difíceis...
Ele a olhou por um tempo em silêncio.
_ Sabe o que dizem por aí_ disse ele levantando_ Que o céu acima da tempestade é tão azul quanto em nossos sonhos mais doces, e que as nuvens são brancas como carneirinhos. Dizem que acima de toda tempestade existe um lugar calmo e seguro pra repousar.
Pela primeira vez ela levantou os olhos e o encarou. O homem vestia preto e tinha o rosto sereno.
_ Você já foi lá?
_ Eu não_ disse ele sorrindo_ Não tenho asas como você. Mas se tivesse não ficaria sentada esperando a tempestade passar e o coração deixar de sangrar. É como dizem: “A neve e a tempestade matam as flores, mas nada podem contra as sementes.”
Ele fechou o sobretudo preto e se afastou.
Ela voltou a olhar para as gotas em seus pés. E tomando uma decisão abriu as lindas asas e subiu enfrentando a tempestade que ficara mais dura.
No começo achou que não iria aguentar a dor que dilacerava seu coração, lágrimas caiam de seus olhos, e estava cansada...muito cansada. Mas não iria desistir, tinha como objetivo chegar acima da tempestade, sabia ser capaz.
Voou mais rápido e com mais força até que alcançou a nuvem mais cinzenta de todas e a dor quase a deixou sem sentido, mas ela superou e passou por ela.
O que viu depois nunca imaginou que existiria, a tempestade ficara num lugar do passado, não havia mais dor, havia finalmente encontrado um lugar de paz.

Lá embaixo o homem sorria.




Hoje, contemplando o fim da tempestade,
Já não recolho os destroços como antes.
Levanto minha cabeça e sigo em frente...
Se tenho que tirar uma lição, fica esta:
O vento só leva, quem se deixa levar...”