Hoje estou ficando mais velha. Na verdade isso é uma grande bobagem, pois estamos ficando mais velhos desde que nascemos. Mais velha a cada segundo, porém acho que só percebemos isso quando o ano passa, quando o aniversário chega e você acorda com os parabéns e as felicitações, aí você respira fundo e sente: Estou mais velha.
É nesse dia que consigo visualizar a ampulheta do tempo deixando que os grãozinhos de areia da minha vida escorreguem para o outro lado, o lado da recordação, o lado do “não dá pra voltar atrás”.
Mais um ano se passou, um ano a menos em nossa vida, uma estrada a mais pro caminho final... E assim vamos nessa adição e subtração de anos.
Fico olhando pra folha em branco na minha frente pensando no que rabiscar nesse dia que as pessoas esperem que eu diga alguma coisa, que eu conte ou grite como estou feliz pelo universo ter conspirado pra que eu nascesse nesse dia, o mesmo dia de George Washington ou da Olave Baden-Powell, isso é uma grande honra, apesar de que metade das pessoas no mundo jamais saberão quem é Olave ou não façam ideia do que George fez pelos Estados Unidos.
E eu fico aqui, dançando entre os números, entre o três que agora se transforma em quatro, e quando eu abrir os olhos novamente depois dessa noite de sono estará mais próximo de se tornar cinco.
Quando criança os aniversários são divertidos, festas temáticas, presentes, bolo de chocolate e brigadeiro... Quando se torna adulto os aniversários servem apenas pra essas reflexões estúpidas de: “O que estou fazendo com a minha vida? Como posso ser uma pessoa melhor ano que vem? Quais são os planos?”. E é nesse minuto que você percebe como era bom ser criança, mas aí a infância já passou e não tem como o tempo voltar, de agora em diante os anos serão subtraídos de você.
Se pudesse pedir um presente, na certa pediria um dia como criança novamente ou poderia fazer como Antoine Jean de Saint-Exupéry e encontrar no deserto mais profundo da minha alma uma pequena princesa, de cabelos loiros e um vestido de gaze rosa, com uma coroa maior que sua cabecinha e asas de papel que ficam coçando e incomodando o tempo todo, que chegaria de mansinho perto de mim, com um bico que é uma graça, falando: “Hey. Conte-me uma história, uma fábula daquelas que você escrevia quando era criança!”. E eu, chorando de emoção, colocaria aquela pequena princesa no colo e contaria a história das fadinhas que brincavam de modelar com as nuvens no céu ou das bruxinhas boazinhas que cuidavam do jardim da infância, e ao ver que a princesinha pegava no sono contaria a história mais linda de todas, aquela do jardim secreto que a princesa escondida balançava todas as manhas, até que um dia ela caiu do balanço e ficou dormindo para sempre no meio das flores mais cheirosas e dos animais mais bonzinhos do mundo.
E seria assim, eu deixaria a princesinha dormindo para sempre naquele jardim secreto da minha alma, que agora estaria mais colorido e perfumado e voltaria pro mundo real, o mundo dos 24 anos, o mundo preto e branco que não quer mais saber de fábulas e histórias que acalentam a nossa alma, mas de números de contabilidade e de regras de como sobreviver na selva de pedra. Voltaria pras questões estúpidas de aniversário e pros apertos de mão de felicitação...
Vou acabar meu texto de aniversário por aqui, desculpe se você estava esperando uma reflexão ou planos futuros, desculpe mesmo pela decepção, mas quero acabar meu texto de aniversário com a imagem da pequena princesa rosa dormindo sorrindo no meio do jardim secreto.
“As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.”
O pequeno príncipe
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