quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Morte de Amy Winehouse


“Não conseguimos! Não deu tempo! Perdemos mais uma filha!”

"Numa noite, zapeando a TV, deparei-me com uma voz. A voz era uma mulher...
Que coisa linda aquela voz forte e diferente. A beleza era a voz sem enfeites ou voz, olhei para o seu rosto e seus cabelos (exagerada a maquiagem e cabelos volumosos e escuros). Mas, eu só “via” a voz. Peguei o finalzinho do show. A vontade era ter de imediato um CD, um DVD. “Quem era ela?” Amy Winehouse! Isso foi há dois anos e meio. Fiquei encantado, mas não acompanhei mais.
Tempo depois, novamente me encontrei com a cantora de nome difícil de pronunciar. A notícia, agora, ligava sua voz à desfiguração de seu corpo, aos escândalos de sua vida pessoal desregrada, à dependência do álcool e do crack, ao seu namoro conturbado e polêmico com algum artista.
Fiquei muito triste e chocado pelas imagens; não teve como não pensar em muitos jovens no Brasil. Pensei no talento daquela moça, na riqueza de sua voz poderosa, em toda fama e dinheiro, pensei na família dela...Ela tinha tudo para dar certo!
Não sei...Talvez não...O que aconteceu? Não a vejo diferente dos nossos filhos do Brasil.
Talvez fosse uma “pobre jovem” igual a milhares, milhões de filhos e filhas perdidos de suas famílias, meninas e meninos perdidos no vazio de sentido, desorientados por uma sociedade que cria os seus mitos e ídolos, seus derrotados e desacreditados, seus compulsivos consumidores, seus filhos inseguros e medrosos quanto ao futuro, seus jovens alienados pela dependência química...
A sua música mais reconhecida e premiada (REHAB, Reabilitação), cantada por adolescentes e jovens, gente dependente química, talvez tenha se tornado o grande hino do “NÃO” à esperança e ao sonho, e um SIM ao erro de querer e conseguir sozinho na luta contra as drogas. “Tentaram me mandar pra reabilitação. Eu disse: "não! Não! Não...E mesmo meu pai pensando que eu estou bem, ele tentou me mandar pra reabilitação, mas eu não vou! Não vou! Não vou!"
Um produtor musical fez uma crítica direta e emblemática: Vimos a vergonha e a tristeza de uma tragédia assistida e festejada por milhares de pessoas, especialmente jovens.
Ele falava de um show dela em Florianópolis, SC, em que a cada intervalo que a cantora se abaixava para tomar uma dose de bebida alcoólica, a platéia delirava e batia palmas.
Como é triste a celebração da decadência e da fragilização da pessoa humana. O meu sentimento é de tristeza mesmo – era uma Filha. “Não conseguimos! Não deu tempo! Perdemos mais uma filha!”. E, talvez digam que “ela não quis”, ou que “preferiu a vida boa”. Talvez digam que “era uma fracassada, uma coitada”?
Quantos bateram palmas ante sua loucura performática e irreverente? Quantos agora derramam lágrimas e hipocritamente pegam versos de suas canções para dizer que Amy permanecerá eterna? Mentira.
A verdade é nua e crua: não há beleza ou glamour em um corpo comido e corroído pelo álcool e pelo crack ou qualquer outra droga que seja!
Testemunhamos naquela moça genial o que todo o dia acontece pelas cracolândias do Brasil e do mundo, no submundo da solidão das drogas e da prostituição.
Ainda, no trecho da canção: “Eu não quero beber nunca mais. Eu só, só preciso de um amigo...”. Abraço, carinho, palavras bonitas, calor humano, a proteção familiar, é o que tem faltado pra tantos dos nossos filhos e filhas jogados fora todos os dias. O mundo está doente. O mundo precisa de abraço, de palavras fortes e cheias de amor humano. O mundo precisa de Deus e de pessoas que tenham coragem de cantar novos refrãos de esperança de vida verdadeira.
O mundo precisa de pessoas que lutam todos os dias e não desistem. O mundo precisa de pouca coisa e que custa quase nada, é de graça.
O mundo precisa de amor falado, repartido e celebrado.
“O mundo precisa de novos refrãos de esperança de vida verdadeira!!!”

Pe. André Luna

Nota de Alice: Eu não gostava da Amy e não chorei sua morte. Me senti fragilizada apenas, como me sinto fragilizada e incompetente cada vez que vejo uma criança se perder nas drogas ou pedir esmola descalça com o frio na esquina de casa...sinto pela Amy, como sinto por cada jovem. Sinto pelo mundo cada vez mais sem esperança...As crianças pedem socorro..quando será que vamos acordar desse estado patético de inércia e fazer alguma coisa por nós mesmos???

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