sábado, 27 de abril de 2013


Ela abraçava forte o livro contra o peito. A tarde já estava indo embora e o vento frio de outono brincava com seus cabelos trançados. Ela caminhava silenciosa sobre as folhas amarelas caídas das arvores. O cenário lhe dava nostalgia.
Há sempre um dedo de poesia nas tarde de outono, ela sentia isso quando caminhava por ali. Existe um pouco de tristeza escondida nas folhas mortas, nos troncos das arvores se preparando pra mais um inverno rigoroso, nas pessoas escondidas do vento, talvez somente seu coração se sentisse assim, talvez por isso se sentisse só, ninguém compartilhava com ela a harmonia de uma tarde de outono.
Apertou mais forte o livro contra o peito. Gostaria de estar dentro dele naquele momento. Ali poderia ser a princesa dragão, a rainha traída, a Mãe, a Donzela, O guerreiro, poderia ser a espada da manhã, o guardião da muralha, o corvo dos três olhos, poderia ser o que quisesse desde que vivesse dentro daquele livro. Poderia tentar lê-lo em voz alta, quem sabe tivesse o dom de se transportar para dentro da história. Talvez...
Gostava das tardes de outono, mas sentia falta de algo, parecia não fazer parte daquele cenário, como uma figura pintada no quadro errado. Como um personagem perdido no conto que não lhe pertencia.
Dobrou uma esquina e escutou o apito de um trem. A estação estava perto dali.
A alguns outonos atrás gostava de ficar sentada na estação criando histórias pra cada pessoa que ali passava, sobre suas viagens, seus segredos, em sua imaginação alguns deles eram detetives disfarçados atrás de um grande mistério, alguma mãe indo se encontrar com o filho perdido... suspirou.

_ Eu poderia ser uma história...

E com esse pensamento dobrou os quarteirões caminhando contra o vento, parou em frente ao guichê de passagens.

_ Uma passagem, por favor.
_ Para onde senhorita?

Tirou os trocados do bolso.

_ Pra onde eu possa pagar.

O vendedor a encarou por uns minutos, sorriu com o canto dos lábios.
_ Suponho que seja apenas de ida. Seu trem sai nesse exato momento. Deve se apressar.

Ele entregou sua passagem e o dinheiro que ela havia lhe dado. Diante do seu olhar questionador. Ele disse:
_ Rápido doce Alice, não vai querer perder seu trem, sua história começará sem você se isso acontecer.

Ela guardou o dinheiro agradeceu e correu pela estação embarcando em um trem qualquer.
Sentou-se na janela, abriu seu caderno de colégio, arrancou as fórmulas de matemática, a história de seus antepassados, as conjunções adverbiais de tempo e lugar, não ia mais precisar de matérias escolares, era ela quem faria, a partir de agora, suas fórmulas, suas histórias, seus pronomes, pegou sua caneta especial e começou:

“Em uma nostálgica tarde de outono ela se lembrou de quem era, se agarrou aos seus sonhos e percebeu que seu caminho deveria ser outro. Juntou sua coragem e seu livro embarcando em um trem que um estranho lhe indicou...”


Para que servem os anjos? 
A felicidade mora aqui comigo 
Até segunda ordem...”
Legião Urbana

Um comentário:

  1. Acho que não tenho nada legal pra comentar. Mas gostei muito.
    Muito mesmo, esse texto ficou intenso.

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