Enquanto as folhas das árvores caem pelo outono, eu sinto
meus pés e corações congelar, será que ainda restam esperanças?
Talvez quando as sombras não forem assim tão espessas,
e os dias voltarem a ser claros e doces, eu consiga enxergar o caminho por onde
estou seguindo. Por enquanto os dias cinzas tomaram conta da minha mente, e
navegar em meio a tempestade só faz com que percamos ainda mais a direção certa.
Talvez quando a poesia voltar a fazer sentido, e as palavras voltarem a se unir
em minha mente eu possa enxergar tudo que deixei passar.
A vida brota do caos...a mão que afaga perde a força, a
palavra que ia ser falada encontra aconchego debaixo da língua e por ali fica,
sem vontade de ser dita.
E no meio do caos eu vejo você...
…Shine on you crazy Diamond...
Como um cometa luminoso em um céu escuro, você ilumina
o que há de triste, você ilumina o que há de dor, e assim sem mas, nem talvez, eu
consigo me aconchegar em seus braços e já não há importância se os dias são
cinzas lá fora, se os meteoros caem rapidamente do céu, se o caos se espalhou.
Não importa mais nada, a ressaca do mar se mistura com as lágrimas derramadas
na noite passada, a maquiagem borrada se apaga e dá lugar a face limpa e clara,
e nada faz mais sentido do que a química composta por seu perfume misturado ao
meu. Os dias cinzas e melancólicos passam como areia na ampulheta dos sonhos
enquanto caminhamos de mãos dadas ao som daquele velho violino. O outono é o
cenário da nossa peça, e cada ato vai se desencadeando em total maestria.
No final da noite, talvez no final da estação,
parafraseio Gabo e deixo no espelho do seu banheiro escrito em batom vermelho:
Menino, estamos sozinhos no mundo...
Que o outono dure para sempre.